O tema da CF-24 é Fraternidade e Amizade Social. O texto base da CF-24 apresenta a Amizade Social como um caminho de humanização e de renovação das relações humanas. A amizade permite viver e existir com responsabilidade o compromisso de transformar a própria vida e a vida do outro.
A expressão “Amizade Social” é usada pelo Papa Francisco na encíclica “Fratelli Tutti”. Ele afirma que a amizade social vai além de um sentimento de estima. Ela se apresenta como uma forma autêntica de construção do tecido social. Tem como caminho o diálogo, necessário para a cultura do encontro.
Outro detalhe que chama a atenção é que o tema da CF-24 não apresenta um problema social, mas aponta para um caminho para tratar os males sociais dos tempos atuais. Continua, no entanto, a abordar uma situação social que merece uma atenção mais acurada. A amizade social é remédio para superar o momento de fortes polarizações.
O relacionamento entre as pessoas é uma dimensão que precisa ser transformada, reconciliada e redimida. A Quaresma propõe a via espiritual marcada pela oração, o jejum e a caridade. Faz reconhecer no outro, especialmente o desfigurado e necessitado, um sinal da presença de Jesus. Lembra o profeta Ezequiel que Deus não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva (cf. Ez 18,23).
A atitude a ser superada é aquela de Caim “Por acaso sou guarda do meu irmão?”(Gn 4,9). Somos convidados a ver no outro, não um inimigo, mas um irmão e irmã. É um chamado a transformar a divisão em fraternidade. Os vínculos da amizade devem superar a indiferença e o ódio. Permanece sempre o convite a imitar o ser e o agir de Cristo que reconcilia a comunidade e garante a verdadeira paz e a unidade (cf. Ef 2, 14). A comunhão e a unidade, porém, são edificadas em um ambiente marcado pela pluralidade, e tantas vezes pela polarização.
Nunca é demais lembrar que o ser humano foi criado para a comunhão, para a cooperação e fraternidade, mas o pecado o faz caminhar em direção oposta. Busca o distanciamento, o fechamento, a competição, a indiferença, o confronto, a intolerância, chegando muitas vezes a guerra e a eliminação do outro. Quando os interesses substituem os valores, o próximo torna-se mercadoria, a morte é banalizada, a verdade é manipulada, as relações se tornam fragmentadas e o senso de pertença vai se fragilizando. A relação que brota do Evangelho, por sua vez, aponta sempre para a fraternidade.
Por Dom Wilson Tadeu Jönck, SCJ
Arcebispo Metropolitano de Florianópolis
Artigo publicado no Jornal da Arquidiocese de fevereiro, edição nº 308.