Artigo: “Marcos apresenta Jesus (Mc 1,1-13)”, por Pe. Gilson Muerer

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Artigo: “Marcos apresenta Jesus (Mc 1,1-13)”, por Pe. Gilson Muerer

O Evangelho de Marcos (Mc) abre-se com esse versículo: «Início do Evangelho de Jesus Cristo, filho de Deus». Pode-se reter o primeiro versículo como «título» do livro, pois, de fato, a obra se destina a falar da boa-notícia («evangelho») de Jesus («salvador») Cristo («Messias») e filho de Deus. O império romano usava o termo «evangelho» para anunciar acontecimentos importantes, tal como o nascimento do filho do imperador ou uma vitória militar. S. Marcos deixa-nos claro que, efetivamente, a boa notícia é a vinda de Jesus. Ele será chamado de «Filho» pelo próprio Deus tanto no batismo (1,11) quanto na Transfiguração (9,7), e será reconhecido Filho de Deus na hora da sua morte na cruz pelo centurião, um pagão romano (15,40).

A vinda de Jesus, segundo Marcos, foi anunciada pelos profetas (ele cita Isaías e Malaquias), e preparada por um mensageiro de Deus, João Batista (Mc 1,2-8). João se veste, alimenta-se e comporta-se tal como Elias (cf. 2Rs 1,8), um importante profeta de Israel que foi arrebatado num carro de fogo (2Rs 2,11) e que retornaria antes da chegada do Messias. Assim, para Marcos, a semelhança de João Batista com Elias é um sinal de que tal esperança se cumpriu e o Messias veio (Confira Mc 9,13, onde Jesus mesmo diz que «Elias já veio», referindo-se certamente a João Batista, pois «fizeram com ele tudo o que quiseram»: a decapitação de João Batista é narrada em 6,17ss).

Ao ser batizado por João (Mc 1,9), Jesus recebe o Espírito Santo em forma de pomba (ave pacífica e símbolo de vida nova pois, no fim do Dilúvio, Noé soltou uma pomba para ver se as águas tinham baixado, cf. Gn 8,8-12). Ao sair das águas do Jordão, Deus-Pai confirma que Jesus é seu Filho amado (Jesus vai trazer uma nova humanidade, resgatada nas águas do Batismo, na força do Espírito Santo, tal como Noé e seus filhos foram o re-início da humanidade após as águas do dilúvio).

O Espírito impele Jesus ao deserto para ficar 40 dias (o dilúvio também durou 40 dias). Na força da oração e na fidelidade ao Pai ele vence as tentações de Satanás. O povo de Deus não conseguiu vencer as tentações quando vagou 40 anos no deserto. Desse modo, Marcos nos recorda que, com Jesus, vence-se o mal. E quando se vence o mal, simbolizado pela serpente, retorna-se ao paraíso: é o que parece nos dizer Marcos ao apresentar Jesus vivendo entre as feras (Mc 1,12) (tal como Adão e Eva no paraíso antes do pecado, mas tal, também, como a visão de Isaías de quando viesse o Messias, cf. Is 11,6-9).

Nesses primeiros treze versículos Marcos nos apresenta Jesus: Ele é o Cristo, o Filho de Deus, anunciado pelos profetas, preparado por João, ungido pelo Espírito Santo, fiel ao Pai, mais forte que Satanás, que veio para salvar a humanidade e reconduzi-la à comunhão de Deus. Na continuidade, o Evangelho irá narrar ainda muito sobre Jesus e, especialmente, mostrar como ele realiza a salvação.

Conhecendo os EvangelhosEvangelho de MarcosPadre Gilson Meurer

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