Uma das mais belas imagens bíblicas, presente na história do povo de Israel, retratada, na cultura, nos textos teológicos, na espiritualidade e na iconografia, é a imagem do “Bom Pastor”. O pastor, como personagem daquela época, fazia parte da vida, do trabalho, do cotidiano das famílias do povo de Israel e dos povos vizinhos. O serviço de pastorear geralmente era assumido pelos próprios membros de cada família, pois fazia parte de sua subsistência. Este serviço era geralmente assumido pelos homens, por causa da incidência e dos riscos de enfrentar o ataque das feras, bem como dos perigos, dos assaltos e roubos que eram comuns, naquelas circunstâncias (Gn 31,39; 1Sm 17,34-37).
Tão significativa era a imagem do pastor, que era utilizada para comparar os reis, os dirigentes e autoridades religiosas daquele tempo. Ser chamado e reconhecido como um “pastor” era considerado um título de honra e de muita responsabilidade, sobretudo pelas características que lhe eram atribuídas de cuidado, defesa, proteção e zelo pela unidade do rebanho, evitando que este se dispersasse (Ez 37:24; Pr 27:23; Jr 23:1-4; Is 44:28). Quando esta missão não era cumprida, e estes não apascentavam o seu rebanho, mas a si próprios, o profeta afirma que Deus não abandona o seu povo, Ele mesmo assume o pastoreio, cuidando com amor e ‘suscitando novos pastores segundo o seu coração’ (Jr 3,15; Ez 34,3-5; Ez 34,11-31).
Dentro desta perspectiva, ao longo da história da salvação, Deus sempre toma a iniciativa por primeiro, e como Pastor supremo, conduz a humanidade cercando-a de cuidados, revelando seu amor maior através do seu próprio filho, Jesus Cristo, que veio para ser o nosso verdadeiro Bom Pastor, no qual se realizam plenamente todas as esperanças proféticas para humanidade (Jo 3, 16-17).
Neste sentido, nos evangelhos, por diversas vezes, vemos Jesus revelando o amor compadecido do Pai, como o verdadeiro Pastor salvífico da humanidade. “Jesus viu uma grande multidão e encheu-se de compaixão por eles, porque eram como ovelhas sem pastor, e começou a ensinar-lhes muitas coisas” (Mc 6, 34).
Mas, é precisamente no Evangelho de São João, o discípulo amado, que encontraremos Jesus se apresentando como a Porta das ovelhas e como o Bom Pastor (Jo 10,1-18), aquele que conhece as suas ovelhas, chama cada uma pelo nome e dá a vida por elas.
Quando Jesus assume a identidade do verdadeiro Pastor, cumprindo as promessas messiânicas do Antigo Testamento (Ez 34; Jr 3,15), Ele nos surpreende com o seu ensinamento quando se apresenta: “Eu sou a porta”. Ao assumir esta identidade de ser a “Porta”, Jesus se contrapõe ao mercenário e ao assaltante cuja intenção era somente de roubar, matar, dispersar e destruir, afirmando: “Quem entrar por mim, será salvo; entrará e sairá e encontrará pastagem”.
Ele é a nossa segurança, pois não nos abandona, acompanha-nos com amor e cuidados, mesmo quando em nossa prepotência, queremos caminhar sozinhos. Ele afirma: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28, 20).
Foto: Capela da Cúria/Cláudio Pastro