José, esposo de Maria e Pai de Jesus
Por Pe. José Artulino Besen
Jacó gerou José, esposo de Maria,
da qual nasceu Jesus,
que é chamado Cristo (Mt 1,16).
Celebrado em 19 de março, São José foi o último patriarca da antiga Aliança. Germinando no Antigo Testamento, cresceu no Novo. Patriarcas foram os homens a quem Deus se revelava em sonhos. E José, por quatro vezes, teve essas revelações: na gravidez de Maria (Mt 1,19-24), na fuga para o Egito (Mt 2,13-14), para retornar a Israel (Mt 2,20) e seguir para Nazaré (Mt 2,22).
Assim como as jovens de Israel se casavam pelos 12, 13 anos, no início da puberdade, os jovens o faziam em pleno ardor da juventude. Para garantirem a pureza virginal de Maria, os cristãos procuraram evitar que ela tivesse qualquer desejo matrimonial, ou amor humano, erótico, por um homem e inventaram a história que se repete até hoje: Maria tinha se consagrado ao Senhor, feito voto de virgindade e por necessidade de proteção se casou com um velho de 80 anos. Com toda a piedade dessa lenda, acabam negando o gesto heroico e generoso de José e a consagração virginal de Maria, Mãe. Tudo muito ridículo, pois José e Maria eram pessoas normais numa terra em que o casamento era o grande sinal de bênção. Deus queria um pai para seu Filho, e não um velho que logo o deixaria órfão.
Jovem, pensando em casamento, em oferecer filhos ao povo de Israel, entre tantas moças de Nazaré elegeu Maria para si, a mais bela entre as jovens que o encantaram. E Maria, procurando um jovem para marido e pai de seus filhos, encontrou no carpinteiro José o homem ideal, cheio de beleza e dignidade.
Deus tem planos que desinstalam os planos humanos, e irrompeu na vida desse simpático casal de noivos. Maria aceita ser mãe sendo virgem, José sofreu ao descobrir que sua noiva estava grávida: não quis seguir a Lei que condenava a adúltera ao apedrejamento. Decidiu abandoná-la em segredo, para que ninguém duvidasse de sua querida Maria. Ele a conhecia bem, sabia não ser possível uma traição, estava diante de um mistério. Quando o anjo lhe explicou o milagre acontecido, José levou para sua casa Maria, a mais bela entre todas as mulheres. Quantas vezes não se quedou em êxtase contemplando essa mulher única que gerou Jesus, o Senhor do mundo! Na sua humildade, aceitou ser o pai de criação dele. Um gesto generoso numa sociedade patriarcal como a judia.
O grande silêncio na pequena Nazaré
A Bíblia não nos transmite nenhuma palavra de José, nem uma exclamação sequer. O Patriarca do silêncio escuta e obedece! Silenciosamente levou Maria para sua casa, em silêncio viajou até Belém, onde ajudou no nascimento do menino. Oito dias depois, ouvindo a esposa, dá ao menino o nome de “Jesus”, que significa “Deus salva”. Na sua humildade, recebe a visita dos Reis magos que, do Oriente, vieram adorar e render homenagens à criança recém-nascida.
No tempo devido, junto com Maria leva a criança ao Templo de Jerusalém para apresentá-la ao Senhor. Em silêncio, escuta a profetiza Ana, as profecias do velho Simeão que, cheio de alegria, afirmou que já podia morrer em paz, pois seus olhos tinham visto o Salvador (Lc 2,21-38). Diz Lucas que José e Maria escutavam em silêncio as coisas que se falavam do Menino. Tão humildes e pobres, não podiam entender o que estava acontecendo.
O caminho da cruz teve início cedo: roído pelo medo de que Jesus fosse seu concorrente, Herodes mandou matá-lo. Um rei com medo de uma criança pobre, pois os poderosos são muito fracos! Em plena noite, a família de Nazaré foge para o Egito. Largando tudo, a viagem difícil para uma terra estranha, para o desterro no Egito, renovando o caminho do povo de Israel que para ali desceu.
Passado o perigo, retornou com a família para Nazaré, agora renovando o êxodo do povo judeu, da terra da escravidão para a terra da liberdade. Aquele Menino era o novo Moisés.
Pai feliz, José viu o menino crescer em idade, sabedoria e graça. Todos os anos iam em peregrinação a Jerusalém, para a festa da Páscoa. A alegria da viagem, da festa, a preocupação com a criança. Apesar de todos os cuidados, o menino se extraviou da comitiva. Tinha 12/13 anos. Com preocupação o procuraram em todos os grupos. Nada. O jeito foi voltar à Capital. E, surpresa, Jesus estava no Templo e, mais ainda, discutia com velhos doutores, porque tinha celebrado o Bar Miztvá e, com isso, era um adulto em Israel e podia ouvir e explicar as Escrituras. Maria fala, pergunta por que fizera isso, e José cala. Certamente levou um susto quando o adolescente declarou que devia ocupar-se das coisas de seu Pai (Lc 2,41-52). Não era ele o pai!? José e Maria guardam tudo no silêncio do seu coração.
Segue a vida pacata em Nazaré: trabalhos na oficina, alguma plantação, o cuidado da Família. Nada mais se comenta de José. Mergulha no silêncio do mistério de Deus que se revela no Jesus que tinha visto nascer, crescer, tornar-se homem. José lhe explicava as Escrituras, aos sábados o levava à sinagoga, todo arrumadinho e enfeitado pela Mãe. Como a Palavra de Deus é doce como o mel do rochedo, José escrevia as palavras numa tabuinha na qual Maria passava mel: lambendo, Jesus lembrava a doçura da Lei.
O crescimento da Salvação da história acontece na solidão de Nazaré. Como o pai educava o filho na fé, de seu pai, Jesus herdou a adoração ao Senhor, a mansidão, o respeito pelos pobres e doentes, a humildade diante dos aflitos, o valor sagrado do trabalho. A vida de José e Maria foi o espelho contemplado pelo Filho de Deus.
Quando tudo terminou na dor da Cruz, lá não estava José. Jesus entregou sua Mãe a João. Se José estivesse vivo, não a confiaria a um estranho. Entre os 40/50 anos, José morreu nos braços do Filho e amparado pela esposa. Quanta felicidade a desse homem, fechar os olhos entre o Filho de Deus e a Mãe de Deus! Morria o último patriarca do Antigo Testamento, deixando como testamento pessoal a colaboração eficaz e insubstituível de ter sido o pai adotivo do Senhor dos senhores e esposo da Rainha de todas as rainhas, Jesus e Maria.