O presidente do Regional Sul 4 da CNBB, Dom João Francisco Salm, fala sobre a Conferência em âmbito nacional e catarinense

Neste mês em que ocorre a 57ª Assembleia Geral (AG) dos bispos em Aparecida, você conhece um pouco mais de perto a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), criada em outubro de 1952. E também, o Regional Sul 4 da CNBB, do qual a Arquidiocese faz parte.
Dos 18 núcleos da Conferência, conhecidos como Regionais e distribuídos pelo Brasil, as dez dioceses de Santa Catarina fazem parte do Regional Sul 4, que tem a sede localizada no prédio da Fundação Dom Jaime de Barros Câmara, no bairro do Pantanal, em Florianópolis.
A ideia da criação de um Regional próprio para o estado partiu do então Arcebispo de Florianópolis, Dom Afonso Niehues, durante o 1º Encontro do Episcopado de Santa Catarina, em 18 de março de 1969. Os bispos presentes no encontro aprovam a iniciativa e enviam uma solicitação para que a CNBB aprove a criação do Regional ainda naquele ano. O pedido é apreciado pela Comissão Central da CNBB e, em 28 de setembro de 1969, envia o decreto de nomeação do novo regional como “CNBB Regional Sul 4”.
Durante a Assembleia do Regional Sul 3 da CNBB (Rio Grande do Sul e Santa Catarina) realizada em Lages, em novembro daquele mesmo ano, são dados os primeiros passos práticos para a criação do novo Regional. E no primeiro dia útil de 1970 acontece a instalação da CNBB Regional Sul 4, do qual Dom Afonso é eleito o primeiro presidente.
Da esquerda para direita, os bispos do Regional Sul 4: Dom Wilson Tadeu Jönck, Dom Guilherme Antônio Werlang, Dom Severino Clasen, Dom Mário Marquez, Dom Francisco Carlos Bach, Dom Jacinto Inácio Flach, Dom João Francisco Salm, Dom Odelir José Magri, Dom Onécimo Alberton e Dom Rafael Biernaski Sede do Regional Sul 4 da CNBB, em Florianópolis
O Jornal da Arquidiocese conversou com o presidente do Regional Sul 4 e Bispo da Diocese de Tubarão, Dom João Francisco Salm, que abordou aspectos da CNBB e do Regional. Acompanhe.
Jornal da Arquidiocese (JA): Fale-nos sobre a fundação e missão da CNBB.
Dom João Francisco Salm: Como assistente geral da Ação Católica Brasileira, Dom Helder Câmara recebeu a missão de criar o Secretariado Nacional da Ação Católica. Este Secretariado começou a promover Encontros Regionais de Bispos: com os da Amazônia e com os do Vale do São Francisco, por exemplo. Surgia assim o embrião ou o projeto da CNBB. O próprio Dom Helder escreveu mais tarde: “Em um país de dimensões continentais, impunha-se um secretariado que ajudasse os bispos a equacionar com segurança os problemas locais, regionais e nacionais, em face dos quais a Igreja não pode ser indiferente”. A comunhão episcopal, o espírito fraterno e solidário são indispensáveis à missão. A CNBB é a terceira conferência de bispos criada no mundo, em 14 de outubro 1952, dez anos antes do Concílio Vaticano II.
JA: Qual a importância da CNBB?
Dom Salm: É difícil imaginar a Igreja Católica no Brasil, sem a Conferência Nacional dos seus Bispos. Já são mais de 50 anos de solidariedade, de ajuda recíproca, de empenho sinodal, de cultivo da colegialidade e de participação e protagonismo em causas sociais.
JA: O que fazer para aproximar mais o católico da CNBB?
Dom Salm: Quem conhece a CNBB e o que ela faz, fica impressionado e bendiz a Deus. Portanto, informação e conhecimento é a melhor forma de aproximar e passar a amar de verdade. Ao lado de elogios à CNBB, ouvem-se críticas, o que é natural. Mas, grande parte delas revela desconhecimento.
JA: Em relação ao Regional Sul 4, qual o campo de atuação?
Dom Salm: O Regional promove a aplicação das orientações que vêm da Santa Sé e da CNBB, tendo em vista a comunhão eclesial e a corresponsabilidade na ação evangelizadora. Tudo isso tem reflexo imediato na vida do fiel católico, sobretudo através dos Bispos e das Coordenações Diocesanas de Pastoral. Como seria difícil a missão dos Bispos Diocesanos se estivessem entregues à própria sorte, fechados em suas circunscrições eclesiásticas. Essa entreajuda é uma bênção.
JA: Como a Conferência está estruturada em nível nacional e regional?
Dom Salm: Além da Matriz, situada em Brasília, há 18 núcleos, conhecidos como Regionais. Nós, em Santa Catarina, somos o Regional Sul 4. A Conferência realiza anualmente a Assembleia Geral, seu órgão supremo. Órgãos constitutivos são o Conselho Permanente, a Presidência, o Conselho Episcopal de Pastoral, o Secretariado Geral, os Conselhos Episcopais Regionais, as Comissões Episcopais estáveis constituídas pela Assembleia Geral, o Conselho Econômico e o Conselho Fiscal. Em âmbito do Regional, os órgãos constitutivos são o Conselho Episcopal Regional (CONSER), a Presidência, a Comissão Episcopal de Pastoral (CEP), o Secretariado Executivo Regional, o Conselho Econômico e o Conselho Fiscal.
JA: Que avanços foram feitos, quais as conquistas dos quase 50 anos do Regional Sul 4?
Dom Salm: Com a criação do Regional, as atenções dos Bispos e dos agentes de pastoral puderam voltar-se mais especificamente para as dioceses catarinenses. Isso fomentou a comunhão, que é o objetivo primordial da CNBB, a cooperação, a mútua edificação com inúmeros frutos para o nosso povo. É de se destacar a atividade formativa por meio de Escolas, Seminários, Fóruns, Encontros, Reuniões e, neste contexto, a criação do Instituto Teológico de Santa Catarina, a atual FACASC. De grande importância foram e são os Conselhos e as Assembleias de Pastoral.
JA: Quais os eventos deste ano mais importantes do Regional Sul 4?
Dom Salm: Para o Regional, tem grande importância e trará consequências a Assembleia Geral deste ano: serão aprovadas as Novas Diretrizes Nacionais e haverá eleições gerais. Teremos novos ocupantes dos cargos nas Presidências da CNBB nacional, nos Regionais e nas Comissões Pastorais. Em nosso Regional, além das muitas atividades previstas em nosso Anuário, neste ano continuam os trabalhos na elaboração das nossas Novas Diretrizes. Certamente merece destaque a Romaria da Terra e das Águas, no dia 15 de setembro, na Diocese de Lages
Para você, leitor do Jornal da Arquidiocese, o que significa a CNBB?
Diácono Wilson Fábio de Castro, 74 anos, professor aposentado, Paróquia Nossa Senhora do Rosário, São José
“A CNBB significa para mim a instância máxima da Igreja Católica Apostólica Romana no Brasil. Assim como, em nível de Comunidade e de Paróquia, nós devemos reconhecer os Conselhos respectivos, CPC e CPP, a CNBB deve ser reconhecida por nós como o organismo que reúne os Bispos para exercerem conjuntamente todas as funções em favor dos fiéis do seu território, no caso o brasileiro, conforme determina o Código de Direito Canônico.
Por meio da CNBB, devemos crer que todos os nossos Bispos devem, cada vez mais, se aprofundar em comunhão uns com outros. Deve, a CNBB, sempre promover uma pastoral orgânica em favor do povo fiel, e não duvidemos disso, indo aos interesses dos mais necessitados, prevalecendo a opção preferencial pelos pobres, já preconizada pelos Documentos de Medellín e Puebla, perpassando pelo de Santo Domingo, e fortalecida pelo Documento de Aparecida. A minha credibilidade, ainda, na CNBB, está em sua autoridade, em aprovar e editar tantos outros documentos, colocando-os nas mãos de nossos fiéis, tornando uma Igreja cada vez mais profética e missionária. Confio na CNBB”.
Maria Glória da Silva, 55 anos, coordenadora arquidiocesana dos Grupos Bíblicos em Família
“Eu vejo a CNBB como um espaço que pensa, estuda, reflete, decide e orienta a vida da Igreja. Também sei que os bispos têm uma grande responsabilidade nesse momento quando se reúnem com teólogos leigos e presbíteros, pois tudo que acontece no campo eclesial da Igreja e na sociedade civil chega na CNBB.
Sei que é um turbilhão de situações e conflitos levantados, que exige deles uma resposta, para que a Igreja tenha uma posição em favor da justiça. Mas também sei que chegam coisas boas que alegram e dão vigor à vida da Igreja, e isso ajuda muito a presidência, o secretário executivo, os membros das comissões e do Consep, a respirarem melhor. Isso contribui, fortalece e equilibra as decisões e responsabilidades a serem tomadas.
Vejo que a CNBB ouve a voz do Papa Francisco e vive essa comunhão e unidade. Eu particularmente digo que o presidente e o secretário da CNBB devem ser Bispos que sejam sensíveis às dores e às injustiças, às alegrias e às conquistas do povo, que tenham olhos e ouvidos abertos para ver e ouvir seus clamores e angústias, tanto em âmbito eclesial como no sócio-político e cultural.
Rezo por eles, porque sei que enfrentam alguns desafios e, muitas vezes, nós, o povo, os pressionamos a darem respostas e até soluções.
Deus os ilumine e lhes dê sabedoria e graça nos momentos de decisão e posicionamento”.
Matéria publicada no Jornal da Arquidiocese, nº 256, edição de maio de 2019