Quando lemos os textos das Fontes Franciscanas temos alguns detalhes de como São Francisco de Assis amava o Natal: “Celebrava com inefável alegria, mais do que as outras solenidades, o Natal do Menino Jesus, afirmando que é a festa das festas” (2Cel 199,1). De fato, o amor de São Francisco vive até hoje nos presépios montados ao redor do mundo. A tradição iniciada por ele em Greccio, na Itália, completa oito séculos em 2023 e é impossível não refletir sobre essa que é uma das tradições mais bonitas do Natal.

O presépio da Praça XV de Novembro

O artista plástico catarinense Jone Cezar de Araújo é um dos principais nomes do mundo quando se fala em presépios. O reconhecimento internacional veio dos seus presépios, originais, criados com uma releitura moderna e com a mistura de elementos da cultura açoriana. O catarinense é considerado um dos cinco maiores presepistas do mundo e já foi homenageado com a Medalha Mérito Cultural Cruz e Sousa pelo Conselho Estadual de Cultura de Santa Catarina.

“Quando pequenos já vivenciávamos este hábito na casa dos meus avós e meus pais, embora tudo simples os presépios eram ricos em criatividade. Minhas tias, primos e mãe nos davam a chance de participar e criar, nos orientando didaticamente. Embora vivêssemos no seio de uma família cristã, as nossas outras origens, como a judaica, não nos impediam de fazer o presépio e de adorar o Filho de Deus”, detalha.

Em 1993, envolvido na pesquisa e produções artística, recebeu um convite de Gelci Coelho, o Peninha, para fazer o já tradicional Presépio Natural e Artesanal da Praça XV de Novembro, no centro da capital. “Desde lá já se vão 30 anos em nossas mãos, mais os 20 anos com Cascaes e Peninha, chegando ao 50° aniversário desse presépio”, adiciona ele.

O conjunto de peças e materiais, além do processo criativo do autor, fizeram do Presépio Natural e Artesanal da Praça XV uma referência da arte presepista tropicalista brasileira. Mas, não é apenas no Brasil que a obra é destaque. O Presépio da Praça XV é o único nas Américas a fazer parte do tombamento da Unesco como patrimônio da humanidade. Em 2016, a obra histórica do Presépio recebeu, junto com seu artista, um prêmio de reconhecimento por sua beleza e originalidade: a Medalha de Honra ao Mérito Presepista, atribuída quadrienalmente pela UN-FOE-PRAE (Federação Universal dos Presepistas) aos cinco mais expressivos presepistas do mundo. Título conquistado pela primeira vez pelo Brasil.

“Além dos tradicionais personagens, são acrescentados os tipos característicos do nosso folclore, da cultura local e tudo isto usando matérias locais, sementes, fibras naturais, conchas, folhas, artesanato, fainas agrícolas, valorizando assim a produção cultural e artística local. O que destacou o nosso presépio perante a crítica internacional presepista, desde aquela data da noite de dezembro de 1223 na pequena cidade de Greccio, foi que o presépio da Praça XV foi o primeiro no mundo a mostrar o futuro do Menino Deus, conforme está escrito no Evangelho segundo São Mateus, no capítulo 24. Esta também é nossa homenagem a São Francisco de Assis por ter trazido à tona a cena do nascimento entre os povos de todos os segmentos da sociedade”, finaliza.

Coleção de presépios

Raquel Heloísa Guedes Vieira, de Florianópolis, possui uma coleção com mais de 150 presépios, de diferentes tamanhos e materiais, vindos de diversas partes do país e exterior, como Rússia, Tailândia, Itália (onde se iniciou a tradição) e Belém (onde Jesus teria nascido).

“O presépio sempre esteve presente em nossas vidas. Quando crianças, a época do Natal era um período mágico e de preparação. Uma das etapas mais importantes dessa preparação era montar o presépio, fazendo todo um cenário com areia da praia, pedrinhas, flores, etc. Queríamos que sempre fosse um momento especial. Casados, compramos nosso próprio presépio e, à medida que os filhos iam nascendo e crescendo procurávamos mostrar através do presépio o sentido do Natal. No presépio se visualiza toda a sabedoria de Deus em trazer seu Filho para morar no meio de nós na simplicidade, humildade e alegria do nascimento de uma criança. É uma imagem tão fácil de assimilar que cada cultura constrói a sua própria interpretação em figuras”, afirma Raquel.

Indulgência plenária