Revista de Verão 2024: A Fé e o Mar

>
>
Revista de Verão 2024: A Fé e o Mar

Confira a reportagem especial sobre a Fé no litoral catarinense na edição da Revista de Verão deste ano:

Em um litoral tão bonito e com tantas praias e mirantes, é natural que contemplar a imensidão que banha o estado catarinense seja uma das atividades prediletas de quem deseja se conectar com Deus e consigo mesmo.

“O mar nos aproxima de Deus”. Assim o Diácono Luiz Carlos Gonçalves resume a sua relação de fé e respeito com o oceano. Em sua família, essa relação já vem de muitas gerações. Aos 54 anos, ainda é viva em sua memória o testemunho de fé que seu pai e avô davam através da vida simples de pescador. “Meu avô era pescador, meu pai era pescador e durante um bom tempo também fui pescador. Nossa fé sempre nos ajudou a crer que do mar viria o sustento da família e que Deus sempre proveria. E de fato, nunca faltou o alimento em nossa casa, nunca faltou o ‘peixe de cada dia’. Sempre houve uma oração de pedido, assim como uma de agradecimento, pelo peixe que chegava a nossa casa e que muitas vezes era partilhado com os vizinhos e amigos”, descreve ele.

Diácono Carlinhos e seu pai, Antonio Luiz Gonçalves, juntos a contemplar o mar. Foto.: Arquivo Pessoal

O diácono que vive em Areias de Macacu, em Garopaba, é só mais um em meio a tantas histórias que permeiam o litoral catarinense e testemunham uma relação de temor, entrega e gratidão a Deus através do dia a dia de quem depende do mar. Seja na alta temporada, quando as festas em honra a Nossa Senhora dos Navegantes juntam uma multidão em procissões marítimas; seja no inverno, na agitada temporada da pesca da tainha.

Não é só para os pescadores

Essa relação entre a fé e o mar não é testemunhada somente pelas famílias de pescadores. Em um litoral tão bonito e com tantas praias e mirantes, é natural que contemplar a imensidão que banha o estado catarinense seja uma das atividades prediletas de quem deseja se conectar com Deus e consigo mesmo.

“O mar nos aproxima de Deus. Meu pai hoje com seus 78 anos não começa o seu dia sem ia até a praia e ali olhar para o mar, sei que essa é a oração dele, no silencio do seu coração e da sua simplicidade. O mar sempre me ajudou também. É a beira mar que faço sempre minhas reflexões sobre a vida, durante uma caminhada, ou mesmo parado, simplesmente olhando. Ali Deus me fala muito forte”, adiciona o diácono Luiz Carlos.

A cultura açoriana tem muito a ver com essa relação, mas não somente por causa da atividade pesqueira. Segundo Sérgio Ferreira, presidente do Conselho Mundial da “Casa dos Açores”, “a maioria dos açorianos que vieram para cá, até hoje são mais voltados para a pecuária e para agricultura. Tanto que se diz que o açoriano é um homem virado de costas para o mar. Eles são um povo que vive em uma ilha no meio do oceano, com mar muito bravo. Existem homens voltados para a pesca em algumas ilhas, mas nada muito significativo. Eles são muito mais voltados para pecuária do que para a pesca.”

Então, como era a relação entre o povo açoriano e o mar? “Para nós não é, mas naquela época o era o principal meio de locomoção. Então quem não pescava, mesmo assim se deslocava pelo mar e havia o medo. Por isso essas devoções todas, como: Nossa Senhora da Penha, Nossa Senhora dos Navegantes, Nossa Senhora da Boa Viagem, São Pedro. Tudo isso sempre foi muito importante, porque o mar não era só para os pescadores, mas também, para todas as pessoas que precisavam se deslocar”, explica ele.

Uma fé viva nas comunidades litorâneas

Desde que chegou à Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição, na Lagoa da Conceição, em Florianópolis, o Pe. Celso Antunes percebeu a importância da vida nas águas para a comunidade. É ali que ocorre uma das várias procissões marítimas em honra a Nossa Senhora dos Navegantes que existem na Arquidiocese de Florianópolis.

“O povo da Lagoa da Conceição tem uma ligação fortemente ligada aos açorianos. Além disso, nós temos as festas ligadas (que estão relacionadas) com o mar. É uma tradição que existe há mais de 40 anos”, conta Pe. Celso.

Na capital, a procissão na Lagoa da Conceição reúne cerca de 70 embarcações. Foto.: @Magiadrone

Ele particularmente cita duas grandes festividades dedicadas a Virgem Maria, em duas tradicionais procissões marítimas pelas águas da Lagoa da Conceição. A primeira é realizada pela igreja matriz sempre no primeiro fim de semana de fevereiro, quando a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes conduz cerca de 30 embarcações, além de devotos que acompanham ao seu próprio jeito, de jet-ski, lanchas, veleiros e até em pranchas de stand-up paddle. Também no segundo domingo de fevereiro é a vez da Costa da Lagoa celebrar. A Comunidade Santa Cruz fica distante do centro da Lagoa, a 45 minutos de barco. “É uma festa muito bonita. Essa dá mais barcos ainda, chegando a mais de 70 embarcações a acompanhar a procissão”, explica orgulhoso.

A devoção é vivida não somente nas procissões, mas no mais simples do cotidiano dos pescadores. “Lembro uma atitude que tanto meu avô, como também meu pai tinham. Quando faziam pesca de ‘arrasto’ e era dia de alguma festa na Igreja e eles ali pescando, sempre ofereciam, como se uma promessa, o primeiro cerco de peixe do dia para a Igreja. E para a surpresa de todos sempre vinha muito peixe, que era vendido e o dinheiro doado para a festa da paróquia”, testemunha o Diácono Luiz Carlos.

“Não tem, para nós, como olhar para o mar e toda a sua grandeza e não renovar a nossa fé, seja através de uma oração, uma prece, um ficar admirado vendo toda a força do mar e não lembrar de Deus”, finaliza.

GaropabaLagoa da ConceiçãoParóquia Nossa Senhora da Imaculada ConceiçãoRevista de Verão

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

PODCAST: UM NOVO CÉU E UMA NOVA TERRA