A Arquidiocese de Florianópolis conversou com o fundador do IVG, Padre Vilson Groh, para entender como os trabalhos da instituição impactam na região onde está inserida, quais os desafios encontrados no dia a dia e como estão os serviços prestados em tempos de pandemia. Confira a entrevista:
Arquidiocese de Florianópolis: Quantos anos o senhor tem de sacerdócio? Quando o senhor sentiu o chamado a servir os mais fragilizados da sociedade?
Pe. Vilson Groh: No dia 6 de dezembro deste ano, eu celebro 39 anos de sacerdócio. Como seminarista eu já fazia meu estágio pastoral nas comunidades dos morros de Florianópolis. Minha vida de padre foi toda ela vivida intensamente na periferia, construindo pontes entre um lado e outro, na desconstrução da desigualdade social, tendo como inspiração o texto do Evangelho de São Mateus 25,31: “Tive fome e me deste de comer; sede, e me deste de beber; peregrino, e me acolheste; nu, e me vestiste; prisioneiro, e foste me visitar…”. Essa é a força que me move. Quando Jesus está para voltar à casa do Pai, ele diz aos seus: “voltem à Galileia”. Porque a Galileia era o lugar do aprendizado. E as novas “galileias” do mundo de hoje são as periferias, onde ele continua presente com seu grande grito. Um grito que tem de ser ouvido, acolhendo e abraçando todos os dias amorosamente a cada ser humano que a gente encontra.
Arquidiocese de Florianópolis: A ajuda aos mais necessitados deve ser uma prioridade na vida de todo cristão. Como o senhor enxerga a prática da solidariedade, empatia e doação em nossa sociedade?
Pe. Vilson Groh: Dentro desse processo, a solidariedade vem da dimensão do coração das pessoas. Solidariedade não é decreto. A solidariedade não são ideias. A solidariedade é uma relação de compaixão, de colocar-se no lugar do outro e, a partir daí, construir um caminho. Então nesse sentido é importante que a solidariedade se torne uma solidariedade estrutural, que tem o grande papel do controle social.
Arquidiocese de Florianópolis: Como o senhor vê a importância da sociedade civil em união com o poder público na construção de uma sociedade justa e igualitária?
Pe. Vilson Groh: Nesses tempos de pandemia, há dois elementos que se sobressaem nesta realidade. O primeiro é a importância da organização da sociedade civil e, nessa organização, a importância da sua corresponsabilidade com o mundo dos empobrecidos, dos destituídos de direito e de vida. No Brasil, com a pandemia a desigualdade fica assustadoramente escancarada na prática do dia a dia. Penso que este é um foco sobre o qual a sociedade tem de se debruçar, para colocá-lo no centro do caminho de construção de massa crítica de organização. O segundo elemento é redefinir o papel do Estado, romper com o Estado privatista que apenas salva os bancos, mas não salva o seu povo. E aí é necessário voltar a rediscutir a função de um Estado social. Mais do que nunca agora aparece, por exemplo, a importância de um SUS equânime, de possibilidade para todos, de oportunidades para os desiguais. Creio que aqui está um foco a ser perseguido.
Arquidiocese de Florianópolis: Certamente a criação do Instituto Pe. Vilson Groh foi uma resposta à necessidade de estruturar e organizar a ajuda aos que necessitam. Qual foi a motivação para a sua criação?
Pe. Vilson Groh: O Instituto, na verdade, é um grande guarda-chuva, porque nós temos oito organizações não-governamentais que, ao longo do processo histórico desses 40 anos, surgiram de diversas formas e a partir de diversas necessidades e demandas dos territórios. O trabalho do Instituto é para dar perenidade às nossas organizações e ampliar o nosso processo dentro disso tudo. Então, nessa perspectiva, nós optamos pela educação. São redes de projetos, que geram a oportunidade de essa moçada chegar à universidade, porque essa é a moçada, a criança, o jovem adolescente, que nós focamos em um grande investimento social. Um investimento que não é custoso porque investe agora para o futuro.
Arquidiocese de Florianópolis: Em algum momento da missão, por algum motivo, o senhor pensou em desistir?
Pe. Vilson Groh: Como cristãos seguidores do projeto de Jesus, nós não podemos não abraçar a causa dos empobrecidos, porque essa é a causa de Jesus. Seus gestos, suas ações, seu modo de ser, de pensar e de agir, tudo foi continuamente voltado para esta realidade na prática do dia a dia. Por isso o Papa Francisco diz para não tenhamos medo de viver a alternativa da civilização do amor, que é uma civilização da esperança contra angústia e o medo, a tristeza e o desalento, a passividade e o cansaço. Segundo ele, a civilização do amor se constrói no dia a dia de modo ininterrupto, pressupõe o esforço comprometido de todos. Supõe, para isso, uma comprometida comunidade de irmãos.