As férias anuais são um direito de todos os trabalhadores. Atualmente, a preocupação de muitos não é nem com as férias, mas com o próprio trabalho, já que o desemprego tem sido uma ameaça constante. Quem, contudo, tem a possibilidade de, nas férias, conhecer outras realidades e conviver com outras pessoas, só a ideia de viajar já é suficiente para alegrar o coração.
O litoral catarinense, em cada final e começo de ano, acolhe milhares e milhares de turistas. Quem para lá se dirige sonha com férias inesquecíveis. Na verdade, cada qual busca a felicidade, o paraíso perdido e, talvez sem saber, o próprio Deus.
Encontrar Deus, contudo, não é fácil. A cultura de nossos tempos não tem um lugar para Aquele que se revelou em Jesus Cristo. Muitos acreditam que podem solucionar todos os problemas com o trabalho e o dinheiro. Cresce, por outro lado, uma insatisfação generalizada, uma expectativa não bem definida. Espera-se alguma coisa, mas não se sabe bem o que, nem de que maneira virá. Nessa situação, não fica difícil assumir como filosofia de vida a que o apóstolo Paulo percebeu em sua época, e assim resumiu: “Comamos e bebamos porque amanhã morreremos” (1Cor 15,32).
Para que as férias sejam restauradoras precisam de uma “alma” que as anime. Ou, em outras palavras, deve-se evitar nelas tudo o que for desonesto e nocivo, e procurar uma harmonia entre o descanso e as exigências espirituais.
As férias são uma excelente ocasião para o cultivo do silêncio. Não penso, aqui, na simples ausência de barulho, mas na capacidade de cada um escutar a si mesmo, aos outros e a Deus. Já Santo Agostinho havia intuído a necessidade de entrarmos naquele deserto onde estão somente Deus e o próprio eu. E o que dizer do encontro que as férias nos possibilitam com a natureza? As estrelas do céu, o sol que nasce, a planta com seu colorido, o mar que é sempre diferente… tudo isso nos identifica com o coração do salmista, que cantava: “Os céus proclamam a glória de Deus” (Sl 19).
É tempo de férias. É tempo de um encontro especial com Deus.
Por: Arcebispo de São Salvador da Bahia / Primaz do Brasil – Dom Murilo S.R. Krieger, scj
Crédito foto: Everton Marcelino