Florianópolis – Uma linda manhã de sol e temperatura amena, apesar de estarmos no inverno, motivou 130 ciclistas a participarem II Pedal Humanitário, realizado na manhã de sábado, 29 de junho, em Florianópolis. O grupo pedalou por mais humanidade, acolhimento, tolerância e fraternidade para com migrantes e refugiados.
O passeio saiu da praça da Justiça Federal, seguiu pela Beira-mar Norte, neste trajeto contou com os ciclistas do Projeto Novo Horizonte para cegos, e chegou ao Parque de Coqueiros, em Florianópolis, com muita vibração, alegria e celebração. Na inscrição os ciclistas doaram alimentos não perecíveis que serão destinados às famílias dos refugiados.
No Parque de Coqueiros foi montada a Feira Multicultural com comida, artesanato, arte e bijuterias, feitos e vendidos por migrantes e refugiados com objetivo de geração de renda e inserção na comunidade.
Para o procurador chefe do Ministério Público Federal, Darlan Dias, o Pedal, alia atividade física com uma ação comunitária de conscientização para o bem acolher os migrantes e refugiados. Ele lembrou que Santa Catarina foi forjado pela imigração. Os imigrantes construíram o que é hoje Santa Catarina, um modelo com diversificação cultural e econômica e com riqueza bem distribuída. “Agora nós recebemos uma nova leva de migrantes e precisamos acolher bem essas pessoas que chegam ao nosso Estado querendo progredir na vida, contribuir para riqueza da nossa sociedade.”
Uma das novidades deste ano do Pedal foi a participação dos migrantes e refugiados. A migrante colombiana, Reina Bejarano Lopez, disse que pedalar é como voar, porque é sensação de poder. Para ela o Pedal teve a força de integrar “eu valorizo muito esse evento, porque é uma oportunidade de se encontrar, de conhecer os brasileiros, de falar e praticar esporte. O senegalês Buba Cardief agradeceu a oportunidade e disse que o fato de imigrantes e refugiados estarem presentes foi algo muito bom, de intercâmbio e de acolhimento. “Não teve diferenças.”
“Ajudar o outro é ajudar a nós mesmos. Pois, este outro faz parte da nossa existência, sejam imigrantes ou nativos”, falou Clefaude Estimable, haitiano, sobre o Pedal. No Parque de Coqueiros, Cleff pediu um minuto de silêncio em memória do irmão haitiano, Kerby Tinge, covardemente assassinado, no dia 2 de junho, na grande Florianópolis, vítima do racismo e da xenofobia, justamente o que o Pedal Humanitário combate.
O Pedal e a Feira Humanitária despertam para a presença dessas comunidades de migrantes e refugiados que muito contribuem para o dia a dia da cidade afirmou o coordenador do Centro de Referência ao Atendimento de Refugiados e Migrantes (Crai) Luciano Leite da Silva Filho.
Formar alianças e aliados é uma forma de defender serviços de qualidade no atendimento a migrantes e refugiados, reivindicou a agente de Integração do Crai, Gabriela Martini. O Crai poderá fechar as portas em setembro e essas comunidades ficarão sem atendimento. Ela comemorou o aumento de refugiados e migrantes no Pedal com bicicletas emprestadas pela Yellow. “Deixou a gente bem feliz porque é um resultado de que estamos conseguindo promover atividades de integração e troca de cultura entre os brasileiros e o nosso público que são os migrantes e refugiados.”
O Pedal é uma forma de dizer o quanto somos solidários e humanitário. É muito importante falar dos deslocamentos forçados como estamos vivendo e, como a Bruna Kadletz disse, é a maior crise humanitária após a Segunda Guerra Mundial, lembrou a representante do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), Giselle Leite, que veio de São Paulo para prestigiar a atividade.
Segundo ela, 20 de junho foi celebrado Dia Mundial do Refugiados e na data a ACNUR lançou relatório Tendências Globais, que mostra que há 70,8 milhões de pessoas no mundo em deslocamento forçado e dessas mais de 20 milhões são refugiadas. O número de refúgio aumentou muito especialmente de venezuelanos. O Brasil tem a ganhar com acolhimento de migrantes e refugiados É importante discutir esse tema, completou Leite.
A co-fundadora do Círculos da Hospitalidade, Bruna Kadletz, e uma das organizadoras do evento, agradeceua todos que pedalaram para um mundo mais fraterno e afetivo e lembrou que Santa Catarina é o terceiro estado que mais recebe solicitação de refúgio e o quarto que mais recebe venezuelanos no Brasil. Quero agradecer a presença de todos os migrantes e refugiados que estão aqui e que este dia e este mês é para vocês. Que a gente celebra a presença de vocês na cidade. Que a gente se orgulho da história, de coragem e resiliência de vocês e que têm muito a nos ensinar.”
O presidente da comissão de Direitos Humanos da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Arthur Luba, disse que a PRF, parceira na organização do Pedal Humanitário, atua em ações de prevenção e repressão a crimes contra os direitos humanos. “Destaco que a migração forçada traz vulnerabilidade aos migrantes. A PRF entende ser necessário que sejam feitas ações de conscientização e de campanha. Em destaque, o combate à xenofobia e ao racismo e trazer visibilidade e consciência.”
“Os objetivos do Pedal foram atingidos plenamente, ainda emocionada e impactada com o evento, superou todas expectativas e conseguimos o que buscávamos desde a 1a edição, os imigrantes pedalando juntos, afinal a proposta do Pedal é também , a integração e inclusão da população migrante. Um evento com eles e não para eles, pedalaram imigrantes do Haiti, Venezuela, Senegal e Angola. Famílias inteiras, felizes, enfatizou a Coordenadora de Gestão de Pessoas e do Programa Bem Viver do MPF/SC, Cyntia Orengo.
O Ministério Público Federal em SC, pelo Programa Bem Viver, em parceria com o Círculos de Hospitalidade, CRAI/SC, Polícia Rodoviária Federal, por meio da Comissão de Direitos Humanos, agradecem aos participantes, voluntários, colaboradores e ao artista Luciano Martins, Engie, Espaço Saúde, Yellow, Guarda Municipal, Cicles Hoffmann, Justiça Federal, Eletrosul e Usina do Hambúrguer, pelo apoio para concretização do evento.
Por Ju Perboni