“Infinito Amor faz de Deus uma criança, para encher o mundo de paz e esperança”
Realmente só um Pai que é Amor para cuidar dos filhos e filhas com tamanha misericórdia. Tempo de Natal é tempo de refletir sobre toda a caminhada que fizemos durante o ano, tempo de reviver a esperança que nasce com o Menino, num lugar simples e até impróprio para uma criança, mas que revela uma Família disposta a realizar a missão de Deus.
Aqui em Moçambique também nascem muitas crianças tal como nasceu Jesus, por vezes em sua própria casa, pois não há possibilidade de transporte ou assistência para o atendimento na maternidade. Eu, Maria Isabel Tromm, da Diocese de Joinville, cheguei no distrito de Moma em junho de 2019, como membro do projeto de Igrejas solidárias entre o Regional Sul 3 e a Arquidiocese de Nampula – Moçambique.
O povo makua, me ensina muito a viver com o essencial e muitas vezes me vejo comparando a vida e o projeto de Jesus com a maneira de ser e viver daqui. A família é verdadeiramente um espaço de cuidado, principalmente com relação aos filhos. A partir do nascimento, a criança passa a viver toda a rotina da mãe, amarrada na capulana, seja nas costas ou a mamar no peito. E não há um tempo de descanso após o parto, na mesma semana já é possível a mãe ir trabalhar na machamba (plantação), percorrendo longas distâncias e realizando o trabalho manual de capinar, semear ou colher o alimento que sustenta a casa. A partir do momento que já sabem andar, as crianças brincam livremente na rua, cuidadas pelos irmãos ou amigos e, dificilmente, vê-se uma discussão ou briga, é como uma grande família.
Quando revivo o nascimento do Menino Jesus, percebo o quão excluído Ele estava da sociedade da época, sofrendo perseguições por ser Ele o Salvador esperado, José e Maria não tinham nenhuma condição, nem espaço para o nascimento. Agradeço a coragem e fidelidade de José em seguir o caminho migrante com Maria para proteger o Menino. Muitos aqui migram nesse tempo de guerra que acontece na província de Cabo Delgado, vizinha nossa, deixando tudo o que tinham e eram para defender a vida. Longa caminhada de mulheres grávidas, crianças
pequenas, pais que perderam a terra e o emprego. Foi assim que começou a História do Menino.
Por isso, viver o tempo do Natal em Moçambique, reconhecendo-me estrangeira, mas muito bem acolhida, é renovar a esperança, olhando para o exemplo de Jesus. Ele realmente viveu como nós e nos deixou o Amor como Mandamento. Um amor que acolhe, que cuida, tudo suporta e que transborda para sair de si para encontrar o outro.
É a esperança que move as pessoas por aqui: esperança de conseguir o estudo, esperança de que a chuva vai cair, esperança de que a saúde vai nos acompanhar a cada dia, esperança de que a COVID-19 não nos atinja, esperança de que cada filho que nasce, assim como Jesus, seja sinal de vida nova para a família.
Nas comunidades das duas paróquias que atendemos (que somam 167), todos recebem a Eucaristia no dia do Natal, pois os anciãos buscam a hóstia consagrada no Centro Paroquial. As comunidades celebram o dia 24 de dezembro após o jantar e logo no nascer do sol celebram a festividade do Natal no dia 25. Nesse dia, as famílias que
tem possibilidade vão fazer festa em casa com arroz e galinha, a comida típica dos dias festivos, mas também realizam caridade no hospital, na cadeia, nas casas das viúvas ou para alguém da comunidade que esteja a precisar… Partilham daquilo que tem.
Para os muçulmanos, que ainda são maioria por aqui, é celebrado o Dia da Família, inclusive o feriado do Natal leva este nome no país. Presentes? Não, estar vivo é o maior presente recebido.
Muitos são os aprendizados e vivências possíveis de relatar, mas nessa oportunidade de me comunicar com vocês, escolhi falar da esperança. Que ela esteja presente em nossas casas, em nossas ações pastorais e possa nos motivar a olhar para os nossos irmãos e irmãs. Jesus nasceu para plantar um Reino de Justiça, Paz e Amor, sejamos nós o fruto desse Reino. Feliz Natal e um 2022 repleto de Esperança.
Maria Isabel Tromm
Leiga Missionária em Moma/Moçambique