Na reunião do clero, realizada no dia 26 de setembro de 2023, na paróquia Divino Espírito Santo de Camboriú, nosso Arcebispo Metropolitano anunciou, para regozijo geral, a fundação da Casa do Padre. Esse é um fato que merece que se lhe dê importância, pois ele não só será o lar que acolherá os padres nos seus últimos anos de vida terrena, mas também onde serão recebidos os presbíteros que estiverem convalescendo de alguma enfermidade ou precisando de um tempo para recobrarem as forças e voltarem ao trabalho.
A Casa do Padre é a casa que foi residência das Irmãs da Divina Providência, que no dia 12 de novembro de 2023, se despediram de Tijucas, na Igreja Matriz São Sebastião, depois de mais de um século de serviços prestados, desde 1918. O Senhor Arcebispo Metropolitano informou que a atual residência das irmãs será adquirida para a finalidade acima anunciada, há tanto tempo esperada. A existência de um lugar para acolher os sacerdotes de nosso clero diocesano é uma aspiração antiga, tendo havido várias tentativas para concretizá-la, dentre as quais podemos citar as principais.
Quem pôr primeiro procurou fazer algo nesse sentido foi o sempre celebrado Monsenhor Francisco X. Topp, o que nos sugere que se dê o nome dele à Casa do Padre que agora vai ser implantada. Na época, antes mesmo da criação de nossa Diocese, Padre Topp fez da casa paroquial onde atuava também a casa de acolhimento de nosso clero. nessa casa os padres de então se hospedavam quando em viagem, se aconselhavam com o anfitrião, buscavam solução para os problemas que enfrentavam nas respectivas comunidades e tinham a oportunidade de conviver alguns dias com outros padres.
Em 1924, quando o velho monsenhor de tantos méritos já caminhava para o seu descanso final, desprendido como sempre fora das coisas materiais, verificou-se que ele não tinha mais condições financeiras de manter o imóvel, já bem deteriorado. E mais, ele estava muito endividado, haja vista a grande liberalidade de seu coração. Condoído com a situação do amigo, em 24 de julho de 1924 Pe. Giesberts escreveu a Dom Joaquim, informando-o da situação. O Bispo tomou a iniciativa de pedir aos membros do clero que se cotizassem para pagar as dívidas e salvar a velha casa do Monsenhor Topp, que era alvo de ameaças de despejo, feitas pelos credores. A soma arrecadada pelo padre Giesberts, contudo, não foi suficiente para saldar as dívidas e restaurar a casa. Como esta era de propriedade da Mitra que nada devia e, por isso, não poderia ser objeto de leilão, houve a sugestão para que a casa, depois da morte de monsenhor, viesse servir de hospedaria para o clero. O plano, contudo, fracassou e Monsenhor Topp faleceu santamente, em dezembro de 1925.
A Santa Casa de Misericórdia, em Brusque, fundada em 1901, primeiro como hospital, asilo, orfanato e hospício, serviu também de refúgio para vários sacerdotes; uns inclusive ali ficaram até a morte. Ela deu lugar ao Hospital de Azambuja, local que foi sempre um centro importante para a vida da Igreja de Florianópolis, com seu hospital, seu santuário e seu seminário, onde se abrigaram muitos presbíteros. A maior parte do clero, contudo, preferiu permanecer junto às suas paróquias, nas comunidades em que passaram grande parte de suas vidas e ali findaram seus dias. Mas a ideia de haver uma casa apropriada para abrigar o clero obteve mais adeptos a partir da década de 1940.
Monsenhor Francisco Giesberts tinha consciência dessa necessidade. Por seu intermédio, a 3 de março de 1942 o padre José Poggel-SCJ, ex-pároco de Nossa Senhora da Piedade e Superior Provincial da Congregação, enviou a dom Joaquim a proposta de doação de um terreno na localidade de Rio do Pouso – Tubarão, de 50,00m x 50,00m, dizendo-lhe: “De minha parte julgo recomendável a aceitação. Reservadamente, posso dizer que o terreno, devido à sua situação reservada e bem boa, poderia servir para a construção de uma capela e uma casa, onde os padres doentes da arquidiocese teriam ocasião de fazer uma estação de banhos. Pois o Sr. Valente pretende ali explorar as águas termais, tomando pessoalmente a direção do hotel a ser construído, etc”. Em 14 de agosto, dom Joaquim respondeu, dizendo que agradecia ao Padre Poggel o fato de ele despender tempo de trabalho em favor do futuro da arquidiocese “e, os padres que, porventura, venham a usufruir da residência de Rio do Pouso, hão de lembrar-se, seguramente, de seu primeiro idealizador”. Essa proposta, entretanto, não se efetivou.
Em 1952, conforme publicou o Diário do Seminário de Azambuja, do dia 19 de setembro, foi-se consolidando a ideia de que se deveria construir um seminário novo. O arcebispo mandou que o Pe. Guilherme fizesse os estudos nesse sentido. Em novembro de 1953, Dom Joaquim autorizou a nova obra e definiu que o antigo seminário – atual museu – ficaria sendo residência para os padres idosos da arquidiocese. Permaneceu o plano mas, como o seminário antigo foi desocupado somente em 1959, o plano adormeceu e a casa dos padres virou nosso museu arquidiocesano.
Outro nome que deu sua contribuição a favor de uma casa para os padres foi Monsenhor José Locks. Retomando a velha hospitalidade praticada pelo monsenhor Francisco Topp, que acolhia o clero em sua própria casa. Monsenhor José afirmava que era preciso ter um local de hospedagem para o clero, pois a cidade sede do bispado era sempre muito visitada por todo o clero. Naquele tempo, as celebrações junto ao arcebispo, demandas paroquiais e pessoais não poderiam ser feitas num único dia. Muitos vinham de muito longe. Assim, monsenhor propunha como funcionaria a casa: “Seria agradável a todos os sacerdotes itinerantes se houvesse em Florianópolis uma casa onde pudessem comer e descansar em sua viagem, mediante tabela fixa, afixada à porta. Por exemplo: café cr $ 500… Almoço, cr$ 1.500… cama para uma noite… tanto. Assim se faz na casa Cura d´Ars em Belo Horizonte, onde os padres ficam sem constrangimento, sem receio de serem pesados a ninguém. O hotel é muito caro e não se está em casa. Era bom ir-se pensando neste problema”.
Nas demandas do clero, monsenhor José era sempre um atento colaborador, como o foi em relação à casa que construiu em Major Gercino, tão grande e espaçosa. “Estamos terminando as obras da casa paroquial de Major Gercino. Está pintada, lixada, encerada, com as calhas postas ao teto etc… passou aqui, como de costume, o Pe. Persch SJ, e achou que era uma tetéia. E o é de fato. Faço esses esclarecimentos por um motivo especial, encarando a futura necessidade que a Cúria teria de uma casa confortável que possa alojar um padre velho, aposentado.”[2] E recomendava: “Um padre velho deve estar a sós. Ninguém lhe deseja companhia. Vejo um bom número de sacerdotes colegas a caminho deste prazo […] Para este fim poderia muito bem servir a casa de Major Gercino depois de desocupada por mim, o que se dará ao tempo de outros dela precisarem.” Com o Concílio Vaticano II, passou a ser mais comum o padre arranjar-se por sua própria conta, adquirindo alguma residência para lhe servir nos adiantados da vida. Monsenhor Guilherme Kleine foi um dos primeiros a fazer isso, costume já muito em voga na Alemanha, donde ele proveio.
Junto às paróquias, em casa própria e, especialmente no Seminário de Azambuja, viveu o nosso clero idoso. Nos últimos anos, com a acentuação do envelhecimento do clero, a necessidade foi aumentando. Não foram poucos os lugares que nosso Arcebispo e sua equipe examinaram para servir a tal finalidade. A residência do falecido Monsenhor Francisco Bianchini; a ala nova do hospital de Azambuja, que estava desativada com a transferência do asilo de senhoras; a Fazenda Brilhante; o Seminário de Azambuja com ala própria, ou casa própria em Azambuja; a sede da APAZ… Por fim, escolheu-se Tijucas, não devendo nos esquecer do empenho do pároco daquela paróquia, padre Elizandro Scarsi.
Todos nós, os padres, somos gratos aos colegas do passado que trabalharam por essa causa, e não menos agradecidos devemos ser às Irmãs da Divina Providência que nos doaram sua casa em Tijucas, bem como em relação à atual comissão, capitaneada por nosso Arcebispo, que está prestes a tornar realidade esse sonho, finalmente conquistado.
Por: Pe. Eder Claudio Celva