A primeira edição do Congresso Nacional dos Exorcistas da Secretaria Linguística Portuguesa da Associação Internacional de Exorcistas (AIE) foi realizado entre os dias 29 de julho e 2 de agosto, na capital. O Arcebispo Metropolitano, Dom Wilson Tadeu Jönck esteve presente na missa que abriu os trabalhos do evento.
Confira a entrevista da ACI Digital com o exorcista da Arquidiocese de Florianópolis, Pe. Pedro Paulo Alexandre, delegado da Secretaria de Língua Portuguesa da AIE:
De forma geral o que é o Ministério Do Exorcismo? O que é necessário para se exercer essa função?
O Catecismo da Igreja Católica nos diz que “Quando a Igreja exige, publicamente e com autoridade, em nome de Jesus Cristo, que uma pessoa ou objeto seja protegido contra a influência do maligno e subtraído a seu domínio, fala-se de exorcismo. Jesus o praticou, é dele que a Igreja recebeu o poder e o encargo de exorcizar [cf. Mc 3,15; 6,7.13; 16,17]” (CIC, n. 1673). Para exercer esse ofício, o bispo diocesano concede a um sacerdote (dotado de piedade, ciência, prudência e integridade de vida) uma licença especial e expressa (cf. CDC, Cân. 1172).
Que tipos de ações exercem os demônios sobre este mundo?
“[…] a ação prejudicial e contrária do Diabo e dos demônios atinge as pessoas, as coisas e os lugares e se manifesta de formas diversas” (Ritual de Exorcismos e outras súplicas, Proêmio).
Qual é o maior mal que podem causar os demônios?
Os demônios “tentam associar o homem à própria rebelião contra Deus” (Ritual de Exorcismos e outras súplicas, Proêmio), por induzir o homem ao pecado mortal, o qual “tem como consequência a perda da caridade e a privação da graça santificante, ou seja, do estado de graça. E, se não for resgatado pelo arrependimento e pelo perdão de Deus, originará a exclusão do Reino de Cristo e a morte eterna no Inferno” (CIC, n. 1861).
Que sinais podem indiciar a presença de distúrbios de origem diabólica?
Conhecer línguas desconhecidas da pessoa, bem como fatos ocultos, manifestar uma força acima do normal e ter aversão às coisas sagradas (cf. Ritual de Exorcismos e outras súplicas, Preliminares, n. 16). Ver, ouvir, sentir, cheirar e imaginar coisas inexplicáveis à luz das ciências psicológicas. Ter doenças ou distúrbios somáticos inexplicáveis à luz das ciências médicas (cf. Lc 13,11). Acontecimentos estranhos com objetos e animais inexplicáveis à luz da ciência como, por exemplo, coisas que se movem do lugar sozinhas, eletrodomésticos que se acendem e desligam sozinhos, etc.
Há um quadro geral sobre a incidência e quantidade de exorcistas no Brasil?
A Comissão Episcopal Pastoral para a Doutrina da Fé da CNBB, no Subsídio Doutrinal 9 “Exorcismos: Reflexões teológicas e orientações pastorais” (2017), no n. 7, diz: “A Igreja sugere que, se possível, em cada diocese se nomeie um presbítero exorcista. Para tanto, é preciso oferecer aos padres que têm as qualidades requeridas para esse ministério, formação teórica e prática adequada. A ausência de exorcistas devidamente nomeados pelos ordinários e preparados para exercer este ofício em favor do povo, permite tanto abusos quanto descasos”. Hoje temos no Brasil aproximadamente 40 exorcistas. Mas, nosso país é imenso, são quase 300 dioceses. Por isso, precisamos rezar muito para que esta porta de misericórdia se abra em mais dioceses.
Qual é o objetivo da Associação Internacional dos Exorcistas com este I Congresso Nacional de Exorcistas?
No Estatuto da Associação Internacional dos Exorcistas (AIE), no Art. 3, vemos como objetivos da nossa Associação: “A Associação se propõe como fins específicos: promover a primeira formação de base e a sucessiva formação permanente dos exorcistas; favorecer os encontros entre os exorcistas sobretudo em nível nacional e internacional, para que compartilhem as próprias experiências
e reflitam juntos sobre o ministério a eles conferido; favorecer a inserção do ministério do exorcista na dimensão comunitária e na pastoral ordinária da Igreja local; promover o reto conhecimento deste ministério no povo de Deus; promover estudos sobre o exorcismo nos seus aspectos dogmáticos, bíblicos, litúrgicos, históricos, pastorais e espirituais; promover uma colaboração com profissionais especialistas em medicina e psiquiatria que sejam competentes também nas realidades espirituais”. Este congresso era muito esperado. Será a primeira vez que conseguiremos reunir todos os exorcistas do Brasil. Estamos todos na expectativa de nos encontrarmos, partilharmos e vivemos juntos momentos de oração e estudo.
A programação do congresso tem temas que vão desde o exorcismo nos Evangelhos, no Catecismo, até outros mais específicos como esoterismo, espiritismo, constelações familiares e Harry Potter e o ocultismo. Por que o exorcista deve estar atento a todas essas realidades, inclusive aquelas culturais, como no caso de Harry Potter?
Os casos de distúrbios espirituais (infestação, vexação, obsessão e possessão) têm aumentado muito em nosso país. É urgente voltarmos as Sagradas Escrituras e ao Catecismo da Igreja Católica para entendermos certas realidades muito presentes em nosso tempo. A Santa Igreja não se cansa de nos alertar no Catecismo sobre o perigo que as pessoas correm quando se desviam do culto ao verdadeiro Deus (cf. CIC, nn. 2116-2117; 2138). O congresso será uma oportunidade única de nos formarmos com as maiores autoridades em temas tão relevantes.
A programação do Congresso inclui momentos de oração, missa e também uma conferência sobre a espiritualidade do exorcista. De modo especial para os exorcistas, qual é a importância de se cultivar a vida espiritual?
A formação teórica e prática é bem importante, mas antes de tudo está a vida espiritual do exorcista, pois ele precisa estar cheio da graça de Deus para conseguir realizar de maneira eficaz e segura a sua importante e delicada missão. Além do congresso, a AIE promoverá esse ano mais alguns encontros de formação. Teremos a oportunidade de conhecer testemunhos que vários exorcistas com muita experiência, e isso enriquecerá muito a vida espiritual de todos os presentes. Contamos desde já com a oração de todos.