Ao escrever a Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris Laetitia sobre o amor na família, o Papa Francisco respaldou que esse documento adquire um significado especial porque é “uma proposta para as famílias cristãs, para que as estimule a apreciar os dons do matrimônio e da família e a manter um amor forte e cheio de valores como a generosidade, o compromisso, a fidelidade e a paciência”. São 199 páginas de rico material para os casais, agentes pastorais, juventude e toda sociedade.
OS NOIVOS SE PREPARAM
Nos encontros para os noivos que se preparam para o Sacramento do Matrimônio, Amoris Laetitia já é aplicada pelo casal coordenador da Comissão Arquidiocesana para a Vida e a Família (CAVF), Eluiza e Nilo Momm. Casados há 43 anos, eles afirmam que a ansiedade por esta preparação junto aos jovens é grande.
Nilo Momm conta que ele e a esposa recebem o casal de noivos na própria casa, em quatro encontros, uma vez ao mês. São oferecidos temas com base antropológica. No primeiro, aborda-se a questão da dignidade humana. Na sequência, ele explica que “se cria uma entidade chamada ‘nós’. Abandona-se o eu e o tu, para construir o ‘nós’, que seria uma só carne”. No terceiro encontro se deixa claro o que é um amor conjugal. “Mais que amizade, paixão, é um amor total, para sempre. Inclui o exercício da sexualidade, aí se torna semelhante à Trindade, o amor do Criador”, argumenta. E, por fim, os fatores de conflito, como os problemas de sexualidade, a família de origem, dinheiro e princípios morais.
Os noivos passam depois pela entrevista com o sacerdote e participam de um encontro na paróquia de origem. Nesse ano pretende-se dar um novo foco para a preparação para a vida matrimonial, em encontros personalizados nas comunidades.
O casal Momm ressalta que “quanto mais perfeito a gente ama, mais semelhante a Deus nos tornamos, somos filhos dele”.
AS LINGUAGENS DO AMOR
Casados há dois anos e meio, Larissa Cabral Crespi Reis, 27, e o bombeiro, Pedro Cabral Reis da Silva, 30, tem uma filha de nove meses. Eles participam do Movimento de Emaús e das Equipes de Nossa Senhora, em Florianópolis.
A psicóloga relata que participaram, além do curso de noivos da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes e São Luiz, da Agronômica, dos encontros de preparação com Eluiza e Nilo Momm. Entre tantos temas que marcaram o casal, nos meses de preparação para receber o Sacramento do Matrimônio, um foi especial para Larissa: as diversas linguagens do amor.
“Entendemos como podemos sentir e transmitir o amor das mais variadas formas. Se não soubermos a linguagem do amor do outro pode acontecer que não consigamos transmitir nosso amor de forma efetiva, pelo simples fato de o outro ter uma maneira de sentir o amor diferente da nossa”.
DA SEGUNDA UNIÃO AO MATRIMÔNIO
A secretária da Paróquia São Luís Gonzaga, de Brusque, Silvia Clérici, 48, era solteira quando começou a namorar José Almir Clérici, 50, na época separado. Ele já tinha entrado com o processo de nulidade do Matrimônio.
Após três anos de namoro, decidiram morar juntos. Tiveram três filhos e se mantiveram atuantes na Comunidade São José, no bairro onde moram, 1º de Maio. Quando nasceu o terceiro filho, o casal participou do retiro para casais em segunda união, em Itajaí. Dois anos depois, eles levaram este grupo para a matriz da paróquia. Hoje, o retiro está na nona edição e por ele já passaram mais de 120 casais, que se reúnem mensalmente.
Silvia conta que viveu tudo isso, sempre participando da missa, sem comungar. “Neste retiro, aprendemos mais sobre a comunhão espiritual. Precisa-se desejar receber o Cristo, porque às vezes a gente vai para a fila, sem se dar conta”, comenta a secretária.
No dia de Nossa Senhora de Guadalupe, 12 de dezembro de 2009, chegou o documento da nulidade. E em março de 2010, eles selaram a união com o Sacramento do Matrimônio. “Não dá para falar sobre a emoção, depois de tanto tempo à espera. Os filhos, amigos, todos ansiosos e felizes. Com certeza, foi um tempo de aprendizado e amadurecimento espiritual muito grande”, lembra.
Silvia sustenta que os casais em segunda união “são filhos muito amados de Deus, a Igreja não os rejeita, mas acolhe”. E sugere: “vivam bem esta união, criando os filhos na fé, participando das suas comunidades”. Acrescenta ainda que, quando possível, deve-se buscar a nulidade. “Vale a pena dar o pontapé inicial para a entrada no processo”.
A EDUCAÇÃO DOS FILHOS
O Papa Francisco vem em auxílio dos pais, ao dizer, em Amoris Laetitia, que “o que interessa acima de tudo é gerar no filho, com muito amor, processos de amadurecimento da sua liberdade, de crescimento integral. Só assim esse filho terá em si mesmo os elementos de que precisa para saber defender-se e agir com inteligência e cautela em circunstâncias difíceis”.
A psicóloga, assistente social e terapeuta de família e de casal, Jaira Freixiela Adamczyk, orienta que um dos maiores atos de amor que podem ser feitos pelos filhos é escutá-los verdadeiramente. E que os pais exerçam o papel de pais para que a família viva em harmonia. “Não é a escola que vai normatizar. A família tem a função normativa. A função de nutrir o diálogo, a interação do amor, despertar os vínculos de afetividade com o mundo, isso tudo está na família”, exemplifica Jaira.
Ela continua ao destacar a família como um sistema onde o que acontece com um membro, afeta todos os demais. Assim, a psicóloga diz que a família é constituída por três subsistemas: o conjugal (o casal, marido e mulher), o parental (os pais) e o fraterno (que são os filhos). “Quando esses subsistemas não têm clareza dos seus papéis, a família fica exposta aos fatores de risco que existem em nossa sociedade compulsiva e obsessiva pelo ter. Há falta de hierarquia e a inversão de papéis”, menciona.
A terapeuta de família afirma que “quando o casal decide ter uma família, tem que ter claro o papel como pai e como mãe. Aquilo que a gente faz é mais importante do que aquilo que se diz. Por isso, os pais devem colocar limites e serem firmes com coerência”, recomenda. E finaliza: “A alegria é o maior oxigênio na estrutura familiar”.
A MISERICÓRDIA COMO BASE
O assessor eclesiástico da Comissão Arquidiocesana para a Vida e a Família (CAVF), Pe. Hélio Luciano, pondera que sempre tem problema na família, mas isso não faz desejar deixar de ser família. Ele relata que o ser humano é complicado, mas Deus é simples, misericórdia e amor.
Padre Hélio argumenta que misericórdia não é um julgamento. “É esse corpo a corpo, alma a alma, olhar o que podemos fazer juntos. Essa é a misericórdia. E vamos esquecendo como se vive a família. É o meu Whatsapp, meu face, meu e-mail, o meu, meu. Vamos brigando para ver quem está mais ocupado. Mas será que não é necessário ter tempo para brincar com nosso filho, nossa filha, ficar com o esposo, a esposa? Precisamos voltar a nos encontrar. Família, volte a se encontrar!”, alerta o assessor.
Dedicar tempo, cuidar do outro, isso é misericórdia verdadeira.
Serviço de Aconselhamento Familiar na Catedral
Por iniciativa da Comissão Arquidiocesana para a Vida e a Família (CAVF) e com incentivo do Pe. Hélio Luciano, criou-se o Serviço de Aconselhamento Familiar (SAF), que atua na Catedral Metropolitana. Um grupo de casais passou por um curso de formação de seis meses e, em agosto de 2013, começaram os atendimentos.
De segunda à quinta, das 09h às 18h, 12 casais se revezam para atender, com total sigilo, jovens, homens, mulheres, solteiros e casados, na faixa etária de 25 a 60 anos, que procuram o serviço. “Eles vêm em busca de uma palavra amiga e o ponto chave no nosso trabalho voluntário é a escuta. Ouvimos vários tipos de problemas. Mas não fazemos terapia, nossa missão é ouvir”, explica Hipólito do Vale Pereira Neto, que com sua esposa Ana Maria, coordenam o SAF.
O coordenador enfatiza que os voluntários deste serviço na Catedral não fogem da doutrina da Igreja e utilizam as orientações do Papa sobre a família, como a nova Exortação Apostólica.
Para Hipólito Neto, que atua desde o início do projeto, servir voluntariamente representa “um tempo que disponibilizamos para Deus, em função de tudo que recebemos dele, para os irmãos que precisam”.
Matéria publicada nas páginas centrais da edição de junho de 2016, do Jornal da Arquidiocese.