Arquidiocese enriquecida com o ministério de cerca de 150 diáconos
Todo ano, no mês de agosto, a Igreja celebra o Mês Vocacional. Mas, você já parou para se perguntar por que é realizada esta comemoração no Brasil?
Em 1981, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), na 19ª Assembleia Geral, instituiu agosto como o Mês Vocacional. O objetivo principal é conscientizar as comunidades da responsabilidade que compartilham no processo vocacional.
É por isso que cada domingo deste mês é dedicado à celebração de uma determinada vocação. No primeiro, o ministério ordenado (bispos, padres e diáconos); no segundo, o matrimônio, junto com a Semana da Família; no terceiro, a vida consagrada, e por fim, no quarto, a vocação dos leigos.
Na edição deste mês, o Jornal da Arquidiocese (JA) dedica a matéria principal ao sacramento da Ordem, em especial, ao diaconato. Mas antes de conversar com alguns diáconos, o JA resolveu tirar algumas dúvidas sobre essa vocação com o assessor eclesiástico dos diáconos da Arquidiocese, Pe. Valter Goedert.
JA: Como surgiu o diaconato na Igreja?
Padre Valter: O diaconato é uma vocação. Então, aquela ideia de que nós temos muitos padres e não precisamos de diáconos não é verdadeira. Uma coisa é ser padre, outra é ser diácono, são duas vocações diferentes. A Igreja precisa de ambas vocações. O diaconato foi instituído pelos apóstolos no começo da Igreja, está lá no Atos dos Apóstolos, no capítulo seis. Eles sempre existiram na Igreja de uma forma ou de outra, casados ou solteiros. Durante os últimos séculos só havia solteiros e não permanentes. Após o Concílio Vaticano II, voltou a ser permitida a ordenação de homens casados como diáconos.
O importante não é perguntar o que o diácono faz a mais, o que ele faz é por uma graça própria, a graça que ele recebeu no dia da ordenação. Os leigos poderiam fazer a mesma coisa que o diácono faz, recebendo os ministérios extraordinários do bispo. Mas o diácono faz isso através de uma graça própria que ele recebe no dia da ordenação. O leigo recebe um ministério, um mandato, mas não recebe uma graça particular de ordenação para o fazer.
JA: Como é escolhido o candidato?
Padre Valter: É o padre quem vê o paroquiano e pensa nele como possível candidato. Depois consulta a comunidade, principalmente o Conselho Pastoral de Comunidade (CPC). Se o candidato aceitar, o presbítero conversa com a esposa, com os filhos e então a paróquia encaminha a candidatura para a escola.
JA: Como é o processo da escola diaconal? Tem uma idade mínima para ingressar?
Padre Valter: Não tem idade mínima para fazer a escola, mas geralmente é analisado o tempo de casado do candidato. O que vale mais é esperar que o casamento se torne sólido.
JA: É preciso ter curso superior?
Padre Valter: Não precisa, pede-se pelo menos o segundo grau.
JA: Qual é a idade mínima para ser ordenado diácono?
Padre Valter: 35 anos.
JA: Como funciona o curso?
Padre Valter: São quatro anos de formação, com um total de 12 etapas. São três etapas por ano, cada uma tem duração de nove dias. É muito importante formar essa convivência entre eles. Isso é feito através das missas, orações e refeições diárias. Os candidatos não têm somente uma formação intelectual, mas uma formação humana, psicológica e espiritual.
JA: De quanto em quanto tempo se forma uma turma?
Padre Valter: Quando termina uma turma, outra começa.
JA: O que o diácono pode fazer?
Padre Valter: Presidir cultos dominicais, celebrar matrimônios, batizados e exéquias. Eles não podem crismar, celebrar a missa, realizar confissão e unção dos enfermos.
JA: Casados de segunda união podem ser diáconos?
Padre Valter: Não, somente no primeiro casamento na Igreja.
JA: Se a esposa do diácono vier a falecer, ele pode casar-se novamente?
Padre Valter: A Santa Sé em geral não permite o segundo casamento. Só permite em duas circunstâncias. A primeira, quando o diácono tem filhos pequenos que estão precisando de uma mulher para ser a mãe deles. A segunda, quando o diácono tem pais idosos e precisa de uma esposa para ajudar a cuidar deles. Além dessas, tem outra que atualmente não é levada em conta, mas que antigamente ocorria. Se a paróquia precisasse da pastoral dele e ele sentisse afetivamente necessitado de um casamento, o diácono poderia casar.
JA: O diácono viúvo pode ser padre?
Padre Valter: Pode. Ele vai ter uma preparação própria e cursar algumas matérias que são lecionadas no seminário.
JA: Qual é a diferença de diácono transitório e permanente?
Padre Valter: O transitório fica diácono por um tempo, porque o objetivo dele é ser padre. Antigamente não tinha isso, quem se tornava diácono era para ser permanente. Hoje em dia isso ocorre para o futuro padre ter uma melhor preparação.
JA: Qual é a importância dos diáconos para a Igreja?
Eles são fundamentais. O diácono é casado e por isso ele tem uma capacidade de entrar no mundo da família que nós padres não temos. Além disso, eles têm profissão e conseguem entrar em ambientes que os presbíteros não conseguem.
Agora que você já tirou algumas dúvidas sobre o diaconato, que tal conhecer alguns deles? Confira a entrevista rápida que o JA fez com dois diáconos e um candidato ao diaconato:
Diácono Ricardo José de Souza Ricardo
Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe – Canavieiras – Florianópolis
49 anos
Diretor do Instituto de Geração de Oportunidades de Florianópolis (IGEOF)
Casado com: Cláudia Regina de Souza
Ordenado em: 12/06/2005
Quando você decidiu ser diácono?
Tudo começou lá na Crisma, quando minha catequista viu que eu tinha algo de diferente e me colocou como auxiliar de turma. Depois conheci a Renovação Carismática Católica e nela pude me aperfeiçoar mais. Então comecei a cursar teologia e o Pe. Valter veio falar comigo. Como eu era militar, o pároco da Capelania Militar Cristo Rei, Valdemar Groh, fez a minha indicação para Escola Diaconal.
Quais foram as maiores alegrias como diácono?
A primeira é o momento da ordenação, o dia em que a gente chega no céu e sente a presença do Espírito Santo durante toda a celebração. Mas o que me deixa mais alegre ainda é a ação social. Considero-me um diácono envolvido na área social, estou na ação social da Paróquia dos Ingleses e da Paróquia de Canavieiras.
Por ser casado e ter trabalho, você acha que o diácono tem mais facilidade para evangelizar?
O meu lema de ordenação é: “Eis que estou no meio de vós como aquele que serve”. O diácono está no meio do povo a serviço. Claro que os padres também estão, mas eles têm uma gama de serviço e várias comunidades para dar atenção. Já o diácono tem mais tempo livre para estar na comunidade e no ambiente de trabalho. No ambiente profissional a gente evangeliza pelos gestos, pela postura e pelas atitudes. As atitudes convertem mais do que palavras jogadas ao vento.
Diácono Bruno João Degering
Paróquia São Bonifácio – São Bonifácio
70 anos
Servidor público aposentado
Casado com: Anita Steffen Degering
Ordenado em: 23/02/1975
Como o senhor descobriu sua vocação ao diaconato?
Foi um convite realizado pelo meu pároco da época, Pe. Sebastião. Quando Dom Afonso Niehues deu início à Escola Diaconal, foi pedido para que os padres enviassem candidatos. Por mais que estava casado somente há dois meses, os 11 anos que eu tinha passado no seminário ajudou para receber o convite.
Qual é a importância do diácono para a Igreja?
Ele é de suma importância, porque ali se completa em primeiro lugar o Sacramento da Ordem na sua totalidade. O diácono tem como função auxiliar o povo com maior proximidade. É alguém do clero que está mais dentro do mundo secular.
A sua esposa acompanhou o senhor durante esses anos?
Eu agradeço muito a minha esposa. Durante todos esses anos ela sempre me acompanhou e ainda me acompanha. Ela esteve comigo até mesmo quando estava na Comissão Nacional do Diaconato do Brasil e na CADIP. Ela é uma presença muito marcante na minha vida diaconal.
Ainor Francisco Lotério (candidato)
Paróquia Divino Espírito Santo – Camboriú
58 anos
Engenheiro agrônomo
Casado com: Ana Maria Rebelo Lotério
Como o senhor descobriu a sua vocação ao diaconato?
Eu creio que tenha nascido no seio da família, por meio dos meus pais e avós. Meu exercício profissional sempre foi muito ligado à formação de comunidades, à assistência a agricultores, grupos de jovens, no serviço público, à gestão das políticas públicas de atender e prestar serviço àqueles que mais precisam.
Qual é a importância do diácono para a Igreja?
A semente da Igreja nasce no meio do laicato, ela semeia no jardim do Senhor. O próprio Papa um dia foi leigo. Como sou leigo, entrando para diaconato, meu ofício será o serviço para a comunidade. Não é ser diácono somente nas ações pastorais, mas fazer a Igreja do Senhor se estender em toda estrutura social.
São Lourenço – Padroeiro dos Diáconos
O espanhol São Lourenço nasceu em 225 e morreu martirizado em 258, no dia 10 de agosto, em Roma. São Lourenço é modelo de entrega, escuta da Palavra, seguimento e discipulado. Está entre os diáconos do início da Igreja de Roma. Eles eram considerados os guardiões dos bens da Igreja e dispensadores de ajuda aos pobres. O nome Lourenço é o mesmo que Laureamtenens, que significa Coroa feita de Louro, como os vencedores recebiam após suas vitórias. São Lourenço foi ajudante do Papa Sisto II e responsável por um centro dedicado aos pobres.