Nascer, crescer, envelhecer e morrer é a condição mais elementar da pessoa humana que, do ponto de vista da biologia é uma criatura em constante renovação e algumas células do organismo nunca param de se renovar. O processo e renovação dos aspectos biológicos da pessoa depende de uma série de fatores, hábitos alimentares, prática de exercício físico condicionamentos mentais e etc.
Este processo é também válido para o crescimento e a transformação espiritual. Para ajudar a compreender e celebrar a evolução mística que envolve toda a vida humana, a Igreja organizou o ano litúrgico com suas festas e celebrações características. Como uma espécie de preparação para a renovação total que acontece quando a pessoa participa da páscoa de Jesus a liturgia da Igreja faz preceder com quarenta dias de penitência.
O primeiro dia da quaresma é marcado por um gesto simples e de profundo significado. Trata-se da quarta-feira de cinzas, ocasião em que os cristãos são convocados à penitência e a reconciliação. A leitura da carta de São Paulo é categórica: “Somos embaixadores de Cristo e em nome de Deus lhes rogamos: Deixem-se reconciliar em Cristo”(2 Cor 5,20 – 6,2). Para que essa realidade seja ainda mais significativa a Igreja abençoa a cinzas, reza sobre os fiéis e reafirma: “Convertam-se e creiam no Evangelho”.
Leia outros artigos do Jornal da Arquidiocese
O pedido que a liturgia faz neste dia foi vivenciado pelos ninivitas quando ouviram a pregação de Jonas: “Todos, vestiram-se de sacos, sentaram sobre cinzas e jejuaram” (Jn 3, 1-10). Obviamente que este gesto exterior precisa vir acompanhado de uma igual atitude interior, como fala o profeta Joel: “Rasguem os seus corações e não somente as suas vestes” (Jl 2, 12-18).
A imposição das cinzas sobre as cabeças é um gesto externo de reconhecimento da fragilidade e do desejo de modificar os comportamentos como disse o profeta Isaias: “deixe de fazer o mal e comece a praticar o bem”. (Is 1, 16-17). Sem sombra de dúvida essas recomendações cabem como uma luva na mão para toda a sociedade brasileira nas atuais condições. Mais do que nunca a hora é agora e o momento é já. Trata-se de criar fraternidade e superar a violência afinal como disse Jesus: “Vocês são todos irmãos” (Mt 23,8).
Por Pe. Elcio Alberton
Capelão do Hospital Marieta Konder Bornhausen
Artigo publicado no Jornal da Arquidiocese, página 08, edição de fevereiro de 2018