Nos últimos anos, sob o guarda-chuva do cristianismo, brigas políticas internas acirradas entre defensores de ideologias, convicções e valores humanos distintos afastou pessoas umas das outras, desmanchou amizades, embruteceu atitudes e aumentou ódios recíprocos, maculando e implodindo a religião. O absolutismo de opinião “reescreve” as linhas da Bíblia para atender anseios próprios e encobrir receios, tentando impor o pensamento próprio como se única verdade fosse: “O mundo é certo no que presumo, errado no que não concordo”. Não há ponderação, não há meio termo. Prepondera o ódio e a truculência por uma simples discordância de pontos de vista ou por crenças distintas. Decididamente, a mistura de religião com política tem empanado o senso crítico do indivíduo e despertado radicalismos estultos, por preporem, à razão, paixões doentias.
da Fraternidade sugerindo um novo caminho: o reencontro com Cristo pela busca da harmonia, da paz e do diálogo. Das pontes e muros de outrora, agora, se pede a “remoção de entulhos”. E o que isto significa? Livrar-se das animosidades, dos ressentimentos, pois o que não nos une, não nos serve.
A vivência dos ensinamentos de Cristo nos une. Cristo falou de união, de amor, de caridade, de entreajuda, de humildade e de partilha. Defendeu os pobres, a dignidade humana, as minorias, a preservação ecológica, etc. Isto é patrimônio da Igreja e não de ideologias e rotulagens. É compromisso cristão. Está no Mandamento. Portanto, essa luta, verdadeiramente, nos une. Vamos dialogar baseando-nos na moral e nos valores cristãos, cedendo, compreendendo, ouvindo e acolhendo. Indo ao encontro e superando o absolutismo de opinião. Quantos há que precisam de uma mão amiga, de um olhar amigo ou de uma companhia pra desabafar? Quantos há que nós, sem muito esforço, podemos ajudar, minimizando seus sofrimentos ou sua solidão? Às vezes, até bem próximos de nós. E nesse contexto, o bem comum, a felicidade do outro deve ser nossa preocupação permanente.
Artigo publicado na edição de março de 2021 do Jornal da Arquidiocese, página 10.