A Quaresma é o tempo litúrgico que nos coloca em comunhão e em caminhada, portanto em sínodo (caminho conjunto), rumo à celebração da Páscoa. As leituras bíblicas nos relembram o caminho do povo de Deus rumo à terra prometida, nos remetem a Jesus, que nos evangelhos está sempre junto com os discípulos no caminho para a cruz e a ressurreição.
Caminhada penitencial
A caminhada quaresmal tem um forte teor penitencial. No Brasil, conforme o tema da Campanha da Fraternidade de cada ano, há um apelo para que descubramos caminhos de conversão, por meio do jejum, da oração e da caridade, semeando palavras e atitudes transformadoras, a fim de que, em todas as dimensões – pessoal, pública e política, religiosa e cultural – possamos sentir a força do Evangelho que liberta e salva. Essa caminhada penitencial não é feita individualmente e tocando só a intimidade dos corações. É feita sinodalmente, isto é, em comunhão com os irmãos de fé e, mesmo, com pessoas de outras igrejas e religiões, de movimentos sociais e organizações civis que estão empenhados, conscientes ou não, na edificação do Reino de Deus.
Na escuta do povo
Na Igreja sinodal ninguém caminha sozinho, ninguém se salva sozinho. A Constituição Dogmática Lumen Gentium (n. 9) nos ensina que “aprouve a Deus salvar e santificar os seres humanos, não individualmente, … mas constituindo-os em um povo que o conhecesse na verdade e o servisse santamente”. Somos “raça escolhida, sacerdócio real, nação santa, povo conquistado… que outrora não era povo, mas agora é povo de Deus” (1 Pd. 2, 9-10). O papa Francisco pede que o sínodo seja um grande processo de escuta: “escuta de Deus até ouvir com ele o grito do povo; escuta do povo, até respirar nele a vontade a que Deus nos chama”.
No rumo da Páscoa
Nossa caminhada quaresmal não pode ser marcada pela tristeza, pela acídia, pelo desânimo. Temos como meta a celebração da Páscoa anual, iluminados pela luz da Páscoa definitiva. A Constituição Pastoral Gaudium et Spes (n. 39) nos adverte: “A expectativa da nova terra (na eternidade) não deve enfraquecer, mas antes ativar a solicitude em ordem a desenvolver esta terra, onde cresce o corpo da nova família humana, que já consegue apresentar uma certa prefiguração do mundo futuro”. O desejo do céu não nos tira da terra; ao contrário, nos faz trabalhar para que já agora semeemos sinais do céu.
Pe. Vitor Galdino Feller