A Ressurreição que gera paz

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A Ressurreição que gera paz

“E erguendo os olhos, viram que a pedra já fora removida. Ora, a pedra era muito grande. Tendo entrado no túmulo, elas viram um jovem sentado à direita, vestido com uma túnica branca, e ficaram cheias de espanto. Ele, porém, lhes disse: ‘Não vos espanteis! Procurais Jesus de Nazaré, o Crucificado. Ressuscitou, não está aqui’” (Mc 16,3-6). Este trecho do Evangelho da Vigília Pascal, a mãe de todas as vigílias, é bastante claro: Cristo Ressuscitou! Sim, verdadeiramente ressuscitou!

O Vigário Geral, Pe. Vitor Feller, recordando a verdade central da fé – Cristo morreu e ressuscitou – afirma que os cristãos, também, fazem este caminho. “Como Cristo fez a sua Páscoa (=passagem) da morte para a vida, nós também, cada um em seu momento, faremos nossa Páscoa definitiva. Até lá, somos convidados, a todo instante, a passar do pecado para a graça, da morte para a vida. São as ressurreições de cada dia que nos preparam para a última e definitiva ressurreição”, acrescentou Pe. Vitor.

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A ressurreição gera esperança, alegria e paz, porque significa vida. E a paz começa no mais íntimo de cada ser humano, no seu coração. “Guarda o teu coração acima de tudo, porque dele provém a vida” (Prov. 4,23). As ressurreições diárias, citadas pelo Vigário Geral, são de dentro para fora. É um exercício diário e interior.

Neste artigo, “Do lado de dentro”, a psicóloga clínica, Priscila Nicolazi, explica que “a morada mais íntima da vida humana está do lado de dentro”. Do lado de dentro de Cristo Ressuscitado, precisamente do seu lado esquerdo, há mais de dois mil anos jorrou sangue e água, para hoje jorrar amor e misericórdia em abundância para o mundo.

Do lado de dentro

No mundo moderno é comum encontrar o ser humano sem esperança, com a mente inquieta e sem paz interior. Como o ser humano se relaciona consigo mesmo, com o mundo, com as pessoas, propõe novas aprendizagens capazes de gerar novas expressões, ardor e coragem, assim como dor, sofrimento e angústia.

A vida humana passa por conflitos familiares, conflitos nas relações, perdas e luto, violência humana, guerras entre os povos, dependência química, fome do pão físico, humano e espiritual, entre tantas outras situações que tiram a paz do coração. Nem sempre é fácil dar um novo sentido, começar e se abrir para a reconciliação interior e com a vida, assim como uma árvore frondosa que nasce, cresce, reproduz e morre.

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“Hoje semeia-se, muitos dias depois a semente germina; e, passados muitos meses, faz-se a colheita. Não existem saltos, mas sim passos” (Frei Ignácio Larranaga)

Esse semear pode ser comparado ao diálogo entre a videira e o ramo, buscando as habilidades da escuta e da fala interior, desbravando novas descobertas sobre o anúncio da vida para viver!

A morada mais íntima da vida humana está do lado de dentro. Como seivas vivas fertilizando o amor, fortalecendo a comunhão, motivando o sentido de viver e caminhando para uma vida mais harmoniosa.

A intimidade humana é como um recinto sagrado, que nasce (despertando) de dentro para fora e morre de fora para dentro.

Onde se encontra a esperança e a paz, ali se encontra o amor grato pela vida. A gratidão é uma semente silenciosa num solo adubado pela esperança e florida pela paz gerando vida.

Por Priscila Nicolazi
Psicóloga clínica especialista na abordagem na pessoa
e na dependência química e outras adicções

A ressurreição no cotidiano da profissão

Assim, dia a dia, cada pessoa desenvolve como pode para colher esta paz interior que gera ressurreição. O Jornal da Arquidiocese quis saber de alguns leitores, de diferentes cidades, como vivem cotidianamente a ressurreição nas profissões que exercem.

 

– Zulmira Aparecida Alves
– 59 anos
– Auxiliar de limpeza
– Nova Trento

“Nesse período da Páscoa vivo na tranquilidade, na paz. Sempre com Deus nesse tempo de reflexão sobre a Ressurreição de Cristo. Aqui no Santuário Santa Paulina busco manter a calma, silêncio e colaborar com minhas parceiras de trabalho, que há muito tempo estamos juntas. Nossa convivência é ótima! Na minha família procuramos sempre nos redimir e pedir perdão pelos nossos erros e cada um faz seu momento de reflexão”.

 

– Carlos André da Silva
– 50 anos
– Motorista
– São José

“Para nós cristãos, acreditar na ressurreição é uma condição de existência: acreditamos que Jesus vive e é nosso único mediador. Sou motorista, e minha profissão exige muita paciência e atenção. Vivemos em um trânsito muito conturbado, vivo a ressureição sendo gentil com todos, respeitando as leis de trânsito e promovendo a paz”.

– Divo Antonio dos Santos
– 72 anos
– Ginecologista
– Governador Celso Ramos

 

“Atuando como médico desde 1976 e com especialidade em ginecologia e obstetrícia, exerci a profissão até 2012, e continuo esporadicamente nos dias atuais.

A atividade médica sempre esteve sobre olhar de Deus e de Maria, principalmente em momentos difíceis, de situações graves que exigiam uma postura imediata. Tinha consciência de que eu era apenas um instrumento nas mãos de Deus.

Vivi uma fase dos primeiros anos de trabalho com uma preocupação apenas médica, diria técnica, na medicina. Em 1991 tive o meu primeiro contato com o movimento da Igreja Católica denominado de Focolares. A partir deste fato, conheci o significado de ser sinal de ressurreição e comecei a ter um olhar diferenciado dos meus pacientes. Aos poucos me libertava dos cifrões, para dar lugar à importância da pessoa humana, já não me considerava o doutor, mas sentava na cadeira do paciente e procurava entendê-lo. Não permanecendo somente no aspecto físico da doença, mas em uma compreensão holística do seu problema conseguia dialogar sobre a importância e o significado de Deus em nossas vidas.

Destaco ainda a importância dos relacionamentos, principalmente quando vamos ao encontro da dor do outro e assumimos como nossa, despertamos nele a esperança e a credibilidade no seu processo de cura”.

– Vilmar Dal Bó
– 35 anos
– Professor
– Florianópolis

“Experimento a ressurreição pelos caminhos do diálogo, da reciprocidade e da unidade. Em uma sociedade marcada pela divisão e pela intolerância (religiosa, política, cultural), acredito que ressuscitar é superar os conflitos. Ressuscitamos a cada dia quando superamos os nossos próprios limites e respeitamos os limites dos outros. Ressuscitar na sala de aula é respeitar os limites e potencializar superações”.

 

– Geni Corrêa
– 37 anos
– Serviços gerais
– São José

“Eu vivo a ressurreição com pequenos gestos de carinho, de reconhecimento. Quando passo por alguma tribulação, sempre tem alguém para amparar e acolher. Os amigos que tenho me proporcionam momentos de ressurreição, a começar pelas pequenas coisas. Meu local de trabalho é via de ressurreição, também por ser dentro da Igreja, um local abençoado e agradável”.

 

– Raphael de Souza
– 34 anos
– Policial militar
– Palhoça

“Neste tempo de Quaresma é necessário nos voltarmos para mais perto de Jesus, para que possamos, junto dele, ressuscitar no domingo de Páscoa.

Mesmo com a violência que temos hoje podemos ter a experiência da ressurreição, todos os dias. No serviço policial, nem sempre é fácil, uma vez que lida quase sempre com problemas, violências mundanas que costumam levar para longe de Deus. Porém, algumas vezes há a possibilidade durante os atendimentos de ocorrência, de levar a ressurreição para aqueles que necessitam, através de palavras de apoio, ajudando em determinadas situações, ou seja, sendo um verdadeiro cristão”.

Para o policial, assim como todos os cristãos, há a necessidade de estar intimamente ligado com o Senhor, para conseguir alcançar a paz e vivenciar a cada dia a ressurreição de Deus em seu coração.

“Em toda a vida de cristão, só tem sentido quando seguimos os passos de Jesus Ressuscitado, e isso deve transparecer em nosso dia a dia. Mesmo em situações de adversidades, as pessoas que conversam o policial devem ver nele um cristão. E para isso, ele deve ter uma vida de oração, adoração e entrega à obra de Jesus.

E, nesta vida de entrega a Cristo, possamos ressuscitar com ele a cada dia. Vivendo a verdadeira paz que vem de Deus”.

 

– Tiago Hillesheim
– 26 anos
– Pedreiro
– São Pedro de Alcântara

“Na minha profissão aparece muita gente desempregada querendo trabalhar, outros apresentam algum tipo de adicção, como álcool, por exemplo. Então dou uma oportunidade de emprego e acolho estas pessoas. E isto gera ressurreição na vida delas, porque para muitas, mesmo que o trabalho seja somente por uma ou duas semanas, é um dinheiro que elas vão ter para comprar comida para suas famílias.

Deus dá o dom da profissão. Por isso, capricho e tento fazer o máximo possível para que as pessoas fiquem satisfeitas com o meu serviço. Afinal, um simples elogio ao final é sinônimo de missão cumprida e isto gera ressurreição”.

Matéria publicada nas páginas 06 e 07, da edição 244, do mês de abril de 2018, no Jornal da Arquidiocese

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