Neste novo ano litúrgico (“ano A”) somos preparados pelo evangelista Mateus para adentrar nos mistérios do nascimento de Jesus. Seu relato (Mt 1–2) reforça aspectos importantes da identidade de Jesus.
Jesus é profundamente inserido na história de seu povo. O “livro da geração de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão” (Mt 1,1) e a genealogia que segue, a qual elenca homens e mulheres, reis e patriarcas, prostitutas e estrangeiras, apresenta Jesus como herdeiro de uma história não idealizada, mas feita de fraqueza e heroísmo humanos em meio a graça e o perdão de Deus. Ademais, Mateus apresenta um relato recheado de citações das Escrituras (Mt 1,22; 2,5.15.18.23) e alguns eventos que evocam fatos do Antigo Testamento: o anúncio do nascimento em sonho a José, recorda o patriarca José, o “sonhador”, que salvou toda sua família da fome (Gn 37–47). José, pai de Jesus, é o guardião da santa família de Deus que também necessita fugir para o Egito. O massacre dos inocentes perpetrada por Herodes, equipara-se às ações do Faraó, inimigo do povo de Deus, que mandou lançar ao rio todos os meninos recém-nascidos dos Hebreus (Ex 1–2). Tanto Moisés quanto Jesus tiveram suas vidas ameaçadas desde o início e, apesar da cruel perseguição, os prepotentes não conseguem eliminar o salvador que vem de Deus. De fato, em contraste com a rejeição das autoridades, está a acolhida e adoração dos magos, estrangeiros que reconhecem em Jesus o Rei-Messias.
Jesus é de origem divina. O evangelista deixa claro que Jesus foi concebido por obra do Espírito Santo sem a participação do homem (cf. Mt 1,16.18). Com isso se manifesta que Jesus nasce por uma ação direta de Deus, uma iniciativa toda sua, representadas também pelo uso do anjo (Mt 1,20; 2,13.19.22) e da estrela (Mt 2,2.9.10) para instruir os homens.
O livro de Mateus foi escrito em tempos de perseguição dos cristãos e condenação por heresia. Com seu relato, Mateus reforça a fé de sua comunidade em Jesus Cristo, o “filho de Israel” (de Abrãao e de Davi) e o Filho de Deus (por obra do Espírito Santo), cujo nascimento acontece por ação de Deus e avança mesmo em meio a perseguição.
Por: Pe Gilson Meurer
Pároco da Paróquia Santa Cruz, São José
Artigo publicado na edição de número 230 do Jornal da Arquidiocese, dezembro de 2016, página 08