Preparar não apenas a casa, mas o coração, para o nascimento do Salvador
Quem ainda não conhece o bairro Sul do Rio, em Santo Amaro da Imperatriz, é convidado neste mês a uma visita especial. Mais especificamente, para contemplar as sete mil lâmpadas de LED que iluminam toda a casa da aposentada Zélia Ventura Schmitz, 62 anos. A casa da Zélia é tão preparada para o nascimento do Salvador, que ela até já ganhou prêmios no município. Um hábito que a aposentada preserva desde criança quando a mãe, Alaíde Ventura, que faleceu aos 86 anos, reunia os filhos para o animado trabalho de preparar a casa para o Natal. “A alegria da minha mãe era enfeitar a casa. Ela pegava a casca do ovo de passarinho, com o ninho, e colocava no presépio”, relembra.
Casou, teve quatro filhos, oito netos e se mudou para o Sul do Rio, onde há 45 anos preserva a tradição. “Fico triste hoje, porque nesta época do Natal, ninguém coloca pisca-pisca, nem presépio o u pinheiro. É a época mais linda do ano e está se perdendo esta tradição’, lamenta.
Na casa da senhora Schmitz não pode faltar o presépio, mas também tem uma grande árvore, anjos iluminados na sacada, sinos de luzes nos coqueiros. Um trabalho em que toda a família participa e que leva cinco dias para concluir. Só se desmancha no Dia de Reis, 06 de janeiro. “Pensa na alegria das crianças. O Natal é tudo, é o nascimento de Jesus, é maravilhoso”.
Assim como Zélia milhares de pessoas em todo mundo preparam as casas, estabelecimentos comerciais, ruas, para a chegada do Menino Jesus. Mais do que decorar é essencial conhecer este tempo litúrgico que a Igreja vive, para manter acesa a chama do verdadeiro sentido do Natal.
Ciclo do Natal
A Igreja vive o tempo litúrgico conhecido como Ciclo do Natal. Compreende o Advento, as festas do Natal, da Sagrada Família, de Santa Maria Mãe de Deus, do Ano Novo e da Epifania, e vai até a Festa do Batismo do Senhor.
A preparação para a chegada do Salvador
O Advento é um período de grande preparação antes do Natal e representa a esperança, a feliz expectativa do Messias que nascerá na manjedoura. Cada domingo do Advento é uma oportunidade para uma revisão de vida, para se determinar pelo amor e o perdão, pela solidariedade e pela paz.
Tem a duração de quatro semanas e vai até a tarde do dia 24 de dezembro, quando se inicia propriamente o Tempo do Natal. Nas duas primeiras semanas do Advento, a liturgia convida a vigiar e esperar a vinda gloriosa do Salvador. Nas duas últimas, a Igreja recorda a espera dos profetas e de Maria pelo nascimento de Jesus.
Coroa do Advento
Um dos elementos significativos do primeiro anúncio do Natal é a Coroa do Advento, feita com quatro velas: três roxas e uma rosa. A cor roxa recorda a vigilância na espera do Cristo que vem. Já a vela rosa deve ser acesa no terceiro domingo do Advento, chamado de “Domingo Gaudete”. A palavra “gaudete”, em latim, significa “alegrai-vos”. Essa vela representa a alegria da proximidade do Santo Natal do Salvador.
As velas são envoltas em um círculo de folhagens verdes. A forma circular simboliza a eternidade e a cor verde representa a esperança e a vida. São entrelaçadas por uma fita vermelha, símbolo do amor de Deus por todos. A luz das velas simboliza a fé do cristão.
Você pode fazer uma coroa do Advento em sua casa e, a cada domingo, acender uma das velas e rezar com seus familiares.
Quando começa a decoração da casa?
Recomenda-se que a decoração seja montada quando se inicia o Advento, neste ano foi no dia 02 de dezembro. E, tradicionalmente, desmonta-se em 06 de janeiro, Dia de Reis.
Além da árvore, das luzes, sinos, toalhas e outros objetos, o principal elemento não pode faltar, o presépio.
Você sabe a origem do presépio? Os elementos que o compõem? Que foi São Francisco que o criou? Com a palavra, um frei capuchinho:
São Francisco de Assis e o presépio de Natal
Pelo termo “presépio”, comumente se entende a representação plástica, com estátuas ou objetos similares, do acontecimento do nascimento de Jesus, representado nas pessoas dos protagonistas (Jesus, Maria e José), dos visitantes (pastores, anjos, reis magos), dos animais indicados pela tradição (boi, jumento, ovelhas, etc.) e ambientado numa paisagem presumidamente palestina.
É opinião bastante difundida, embora haja controvérsias, que foi São Francisco de Assis que inaugurou a piedosa tradição de se montar presépios nas igrejas, nos conventos e nas casas, como ainda se faz hoje em nossos dias.
Mas onde e quando foi representado o primeiro presépio? O que levou São Francisco a montar e a representar o presépio “vivo”?
O local do primeiro presépio ocorreu em Greccio, uma pequena aldeia na montanha que domina o vale de Rieti, centro da Itália, em 1223. O relato da realização do presépio se encontra na “Vida Primeira de São Francisco de Assis”, escrita por Tomás de Celano, nos números 84 a 87. De acordo com o texto, “Francisco, cerca de 15 dias antes do Natal, chamou seu amigo João Velita, proprietário de Greccio e lhe disse: ‘Se você quiser que celebremos o Natal em Greccio, é bom começar a preparar diligentemente e desde já o que vou dizer. Quero lembrar o menino que nasceu em Belém, os apertos que passou, como foi posto numa manjedoura, e ver com os próprios olhos como ficou em cima da palha entre o boi e o jumento’. Quando chegou a noite de Natal vieram São Francisco, seus irmãos e o povo com tochas. Encontraram tudo pronto: a manjedoura, o feno, o boi e o jumento e celebraram o Natal”.
Para compreendermos melhor: São Francisco amava o Natal mais que todas as outras festas. O que mais o impressionava sobre a encarnação do Filho de Deus era a humildade do nascimento de Jesus (1 Celano 84). Por isso, ele festejava com mais solenidade o Natal do que as outras festas do Senhor, porque, dizia ele, “embora nas outras solenidades o Senhor tenha operado a nossa salvação, no dia em que ele nasceu tivemos a certeza de que íamos ser salvos. Por isso, ele queria que, no dia de Natal, todos os cristãos exultassem no Senhor, e por amor daquele que se deu por nós, todas as pessoas deveriam dar com generosidade do que lhe pertencem, não só aos pobres, como também aos animais e às aves do céu” (Legenda Perusina 110). Afirmava que até mesmo as paredes deveriam ser esfregadas com carne (2 Celano 199), tamanho o seu amor pela encarnação do Verbo, o Deus que se fez humano, assumindo nossa carne.
Montar o presépio hoje e rezar diante dele em nossas igrejas, em nossos lares, reunidos em família, ajuda-nos a contemplar a grandiosidade do amor de Deus, que se apequena, se faz menor, para ser acolhido em colo e calor humano.
Por Frei Evandro Aparecido de Souza, OFMCap / Pároco da Paróquia Santíssima Trindade
O primeiro mestre presepista do Brasil
“Enfeita-se a casa no Natal com luzes, beleza, com cores, para receber o Filho de Deus que vai nascer. No momento em que o Filho de Deus nasce, ele está deixando toda riqueza, todo poder nos céus, e vem nascer a partir de uma mulher, a única sem pecado e mantida em estado de graça, Maria Santíssima, e vive entre nós como uma criança comum. Ele vem trazer a salvação, a graça”. Palavras do artista plástico catarinense, Jone Cezar de Araújo.
Desde 1993, ele é o responsável pela criação e montagem do presépio na Praça XV de Novembro, centro de Florianópolis, e em outras cidades do Estado. Em 2018, Jone recebeu o prêmio pelo Ministério da Cultura, como primeiro mestre presepista do Brasil. Em 2005, foi contemplado com a medalha de ouro na 30ª Mostra dei 100 Presepi, em Roma, na Itália.
Um artista que ainda criança, em um dia no mês de dezembro de 1962, em Tubarão, começou a brincar de montar um “presepinho”. “Depois de pronto, deitado na relva, olhei para aquela pequena estrebaria coberta com galhinhos secos, uma manjedoura formada com uma folha de goiabeira seca e nela um Menino Jesus de papel laminado prata. Estava muito aconchegante aos meus olhos. Então falei: ‘como eu gostaria de estar ali dentro naquele momento em que Jesus nasceu’”!
Visite o presépio do Jone Araújo na Praça XV! Monte um presépio na sua casa ou mesmo no seu trabalho. Faça do seu coração um presépio, onde o Menino Deus possa nascer na noite gloriosa de 24 de dezembro e em todos os dias de sua vida. Deseje, como o Jone, estar dentro desta manjedoura e contemplar o milagre do Verbo que se fez carne, veio habitar no meio de todos e, principalmente, encontrou morada em seu coração.
Feliz e santo Natal!
Matéria das páginas centrais, 06 e 07, do Jornal da Arquidiocese, de dezembro de 2018.