Mas, o que busca o cristianismo? Certamente tem como objetivo algo além de obrigações morais ou de construir “seres bonzinhos”. É certo que a vida cristã acontece no ser humano que tem, por natureza, vários desejos e interesses. Normalmente se concorda que ser cristão é ir além destas tendências naturais. Mas a que se propõe o cristianismo?
Quando nos consideramos “bons” é porque nos deixamos convencer de que buscamos um comportamento digno. Concordamos que o bem da sociedade tem direitos sobre o ser natural. É a moralidade. Há coisas que o ser natural deseja fazer que são consideradas “erradas” e é preciso abrir mão delas. E há coisas que o ser natural não deseja fazer e que são “certas”, então devemos fazê-las.
Quando se vê o cristianismo só como busca de uma moralidade pode acontecer algo assim: espera-se o tempo todo que os ideais nobres sejam alcançados, e assim o eu natural tenha alguma chance de realizar os seus desejos, isto é, de fazer o que bem entende. É como a pessoa honesta que paga os impostos na esperança que sobre algum dinheiro, suficiente para viver. Como se vê, o eu natural é tomado como ponto de partida.
A proposta cristã é diferente. Cristo diz “dê-me tudo”. Cristo não quer apenas uma parcela do nosso tempo, do nosso dinheiro, do nosso trabalho. Ele quer toda a nossa pessoa. Ele não veio para atormentar o nosso eu natural, veio para matá-lo. Ele não quer podar um ramo aqui, outro ali, quer derrubar árvore. Ordena que se renuncie a todos os desejos considerados maldosos, mas também àqueles considerados inocentes. Cristo quer substituir todo aparato por um novo ser. A nossa vontade deve tornar-se a sua. O cristão deve “revestir-se de Cristo”.
Pode parecer terrível, mesmo impossível, entregar todo nosso ser a Cristo. Mas Cristo diz que seu peso é leve e seu jugo, suave. É mais fácil do que aquilo que, muitas vezes, tentamos fazer, isto é, continuar sendo “nós mesmos” para manter a felicidade como o grande objetivo da vida. Tentamos fazer nossa mente, nosso coração seguir os seus caminhos, centrados no dinheiro, no prazer, na ambição e esperamos nos comportar de forma honesta, casta e humilde. Um espinheiro não é capaz de produzir figos.
Artigo publicado na edição de agosto de 2019 do Jornal da Arquidiocese, página 02
Por Dom Wilson Tadeu Jönck, sc