Para falar de relacionamentos, Dom Bernardo Bonowitz, abade da Trapa de Campo do Tenente, serviu-se do conteúdo do livro de São Bernardo Claraval “Sobre os graus da humildade e da soberba”. Passamos a apresentar alguns tópicos.
Segundo São Bernardo, monge do século XII, a salvação depende da vivência de uma autêntica relação com o próprio eu, com os outros e com Deus. Para ser autêntica a relação deve se fundar sobre a verdade. A tarefa do ser humano é chegar à verdade sobre sua pessoa, sobre os outros seres humanos e sobre Deus.
Estas verdades não são idênticas. Devem ser buscadas de acordo com seu objeto e com método próprio. Assim, a verdade sobre nós mesmos é a humildade; a verdade que nos coloca em contato com o outro é a caridade; e a contemplação nos coloca em contato com a verdade sobre Deus. Sendo que, esta é recebida mais pela revelação do que pela investigação.
Para S. Bernardo, estas verdades devem ser procuradas segundo uma ordem. Se a verdade fundamental não for buscada por primeiro, a vida se torna uma mescla confusa de verdade e mentira. A primeira verdade a ser buscada é a humildade. É a que requer mais esforço. Alcançar a verdade sobre si mesmo é um caminho doloroso.
Vemos tudo pelo filtro que somos nós. Se o filtro está limpo vemos com clareza a nós mesmos, aos outros e também a Deus. Se o filtro estiver turvo, surgem as distorções e projeções sobre o outro e sobre Deus.
São Bernardo define a humildade: “é a virtude pela qual um homem, por meio do conhecimento sempre mais verdadeiro de si mesmo, diminui gradualmente em valor aos seus próprios olhos”. A tendência da pessoa humana vai na direção oposta, a de ter uma imagem cada vez mais grandiosa de si. Este caminho não leva à verdade, mas a um fingimento. Por outro lado, a verdade, que já está em nós, ficará se debatendo e lutará pelo direito de se expressar. Enquanto não fizer, não estaremos em paz.
Para concluir: não somos tão importantes, tão corretos, tão puros, tão generosos… quanto gostaríamos de ser. Saber disso é infinitamente mais importante do que fingir sê-lo. Além disso, saber a verdade sobre nós mesmos é o único caminho para conhecer o outro na sua verdade e a Deus como ele é.
Por: Dom Wilson Tadeu Jönck, scj
Artigo publicado na edição de outubro de 2017, nº 239, do Jornal da Arquidiocese, página 02.