A morte do Pe. Ney não foi momento só para lamentar o seu desaparecimento. Proporcionou ocasião para refletir sobre o grande sacerdote que era. Foi, antes de tudo, um homem de fé.
O deserto é uma das figuras para descrever este mundo. O deserto é um lugar desafiador e sedutor. Todo israelita sabia que para andar no deserto não poderia perder de vista a nuvem que se deslocava à sua frente. Na nuvem estava o próprio Deus que guiava o seu povo. Quem não seguisse a nuvem estava ameaçado de se perder no deserto.
A grande tentação de quem caminhava no deserto era de fixar o seu olhar nas dificuldades que surgiam no caminho. Quem procedia desta maneira acabava sendo absorvido pelos problemas e armadilhas do deserto. O segredo para superar os obstáculos da caminhada pelo deserto era levantar os olhos para a nuvem. Com um olho na nuvem e outro no chão é que se conseguia organizar e superar os desafios da jornada.
Na caminhada pelo mundo, a atitude de fé faz levantar os olhos para Deus que vai à nossa frente. Com os olhos fixos em Jesus se organiza os desafios do dia a dia. Alguém que fixasse o olhar apenas nos problemas da caminhada, estaria ameaçado de ser engolido por eles.
Padre Ney, com os olhos fixos em Deus, desenvolveu muitas atividades para o bem da Igreja. Com seus dons musicais ajudou muitas comunidades a celebrar o culto a Deus. Tinha convicção de que a sua fé devia se traduzir em obras. Durante a sua vida marcou presença junto aos presidiários, através da Pastoral Carcerária. Exímio conhecedor das Escrituras, ajudou muitas pessoas a conhecerem melhor a Palavra de Deus. Dedicou a sua vida à formação dos novos sacerdotes.
Através do canto, do ensino, dos vários escritos e das obras de caridade transmitia a fé que sustentava a sua vida. Deixou o nosso convívio, mas continuará vivo na nossa memória.
Pe. Ney procurava fazer bem todas as coisas. Conhecia bem a língua portuguesa, aprofundou-se no estudo da Sagrada Escritura. Dedicou-se, com afinco, no atendimento aos presos e necessitados.
Por: Arcebispo de Florianópolis – Dom Wilson Tadeu Jönck, scj
Artigo publicado na edição de fevereiro/2017, nº 231, do Jornal da Arquidiocese