“Levantou-se e voltou para a casa do Pai”. Esta atitude do “Filho Pródigo” (Lc 15), é uma alusão à ressureição. O filho que se sentia como morto, ressurge e passa a viver uma vida nova. Este texto do Evangelho de São Lucas nos ajuda a entender o que significa a ressurreição em nossa vida, o que é festejar a Páscoa no nosso dia a dia.
Os dois filhos da parábola podem significar dois polos encontrados em cada pessoa. Um dos polos representa o desejo de escapar dos limites impostos por regras e normas. O outro polo é o do filho que se aborrece com a misericórdia do Pai. O filho mais novo não quer viver conforme as expectativas dos outros. Deseja fugir das limitações impostas pelos familiares. Quer ter a sua própria vida e desfrutá-la ao máximo. É um anseio de viver o “aqui e agora”, de não querer se preocupar com o futuro. O principal é não ter que ficar em casa onde sempre pode ser observado. Há algo no ser humano que o impele a querer ir embora, a pegar uma carona e estar com os amigos, divertir-se.
Este é o caminho onde o jovem perde a si mesmo. Perde a estrutura e a estabilidade de ser humano, desperdiça as riquezas, gasta com coisas inúteis, com coisas que logo entediam. Aquele que queria estar livre acaba por se submeter à dependência de um estanho (criador de porcos) para sobreviver. Representa a perda da dignidade. Nesta situação muitas pessoas desistem de si mesmas. Não conseguem se perdoar por terem destruído a própria vida, por terem fracassado. Seu orgulho lhes proíbe.
O jovem do Evangelho reage de forma diferente. Cai em si e no seu sofrimento começa a refletir. Surge o desejo da volta ao lar, compara-se aos empregados e toma a decisão de voltar. É o caminho da ressurreição. Para ressurgir é preciso romper com as resistências interiores contra o retorno e o perdão. Temos consciência de que devemos perdoar-nos como Deus nos perdoa, mas esta advertência, muitas vezes, não passa da cabeça para o coração. Ressurreição é deixar que esta transformação profunda aconteça em nossa vida.
Nós somos convidados, também, a vencer em nós a resistência do filho mais velho e participar da festa proporcionada pelo Pai. Este tem uma reação de plena acolhida do filho. Vai ao encontro, abraça, beija, põe anel no dedo, prepara a festa. É preciso fazer festa, pois o filho “estava morto e voltou à vida”. Celebrar a Páscoa é participar plenamente da festa preparada pelo Pai.
Por: Dom Wilson Tadeu Jönck, Arcebispo de Florianópolis