Não há como viver neste mundo sem enfrentar os próprios medos. Já houve quem definisse o medo como a principal ameaça à construção do ser. Mas também é verdade que o confrontar-se com os seus medo é o caminho necessário para o amadurecimento humano. O medo é um sinal que aponta para algo além da situação vivida. E o que se encontra debaixo do medo é um tesouro que vale a pena ser descoberto.
Durante a vida toda pessoa terá que dar uma resposta ao medo de ser rejeitado, o medo de fracassar, o medo da solidão, o medo da morte, o medo da doença e da dor. A construção da pessoa madura passará pela qualidade de resposta a estes medos. Pode-se apontar algumas atitudes que não produzirão bom resultado: “não posso cometer erro algum para não ser desvalorizado”, “não posso passar vergonha para não ser rejeitado”.
A presença dos medos indica que eles têm um sentido na vida da pessoa. E que é preciso ultrapassá-los. O último passo desta passagem deve ser efetuado por cada pessoa sozinha. Assim o medo da solidão mostra que no íntimo da pessoa há um espaço onde ninguém pode entrar. É importante frequentar este lugar. Costuma ser o espaço privilegiado do encontro com Deus e consigo mesmo. Também o medo da morte aponta para aquilo que distingue nossa vida e nosso destino. Morreremos, mas nossa identidade não será destruída.
Uma das novidades do Evangelho é apontar caminhos para enfrentar adequadamente os medos essenciais da vida. Desta forma a obediência responde ao medo do poder que outros podem ter sobre nós. Mostra que abrir-se à vontade de Deus torna a pessoa livre. A pobreza é uma resposta ao medo de privações, de levar desvantagens, do medo do desprezo e da desconsideração. Abre-se mão das seguranças e confronta-se com a verdade. Confessa que Deus é capaz de preencher os anseios humanos. A castidade responde ao medo de não ter onde se apoiar. Nesta situação a pessoa tende a se agarrar a outras pessoas ou a seguranças exteriores.
Quando a pessoa se confronta com seus medos através dos caminhos indicados pelo Evangelho, alcança a sua verdade e liberdade interior. Encontra seu verdadeiro ser e adquire atitudes consistentes de maturidade.
Por Dom Wilson Tadeu Jönck, scj
Artigo publicado na edição de novembro de 2019 do Jornal da Arquidiocese, página 02.