O Concílio Vaticano II (1962-1965) apresenta a Igreja como mistério. Após o Concílio de Trento (1545-1563), a Igreja vinha se configurando como instituição, uma sociedade tão perfeita como qualquer organização humana, com leis específicas sobre a pertença eclesial: a prática dos mesmos sacramentos (sobretudo o Batismo, a Eucaristia e o Matrimônio), a profissão da mesma fé, recitada no credo, e a obediência à mesma hierarquia, centrada na figura do papa.
Volta às fontes
No Concílio Vaticano II há uma volta às grandes fontes da fé, a Bíblia e a Tradição, para tirar desse tesouro a riqueza de uma antiga, mas sempre nova, concepção eclesiológica: a Igreja como mistério. Sendo imagem da Santíssima Trindade, ela é uma comunidade missionária, é o sacramento da união dos homens com Deus e entre si, é germe e sinal e instrumento do Reino de Deus. Refletindo esta ideia, o Documento de Aparecida (2007) dirá: “A Igreja é comunhão no amor. Esta é a sua essência e o sinal através do qual é chamada a ser reconhecida como seguidora de Cristo e servidora da humanidade” (DAp 161).
Imagem da Trindade
A Igreja é na terra o sinal que reflete a comunhão das pessoas divinas, é o ícone terreno da Trindade celeste. A Trindade é a origem, a forma e o destino da Igreja. Assim, a Igreja vem de Deus-Trindade, vive em Deus-Trindade e vai para Deus-Trindade. Em Deus Trindade, somos unidade, mas não uniformidade; somos diversidade, mas não divisão; somos comunhão, mas não confusão. A Santíssima Trindade é a perfeita comunidade missionária, modelo para todas as comunidades e paróquias e dioceses, para a Igreja em todo o mundo.
Mistério e história
A dimensão mistérica da Igreja não anula a dimensão institucional, mas a precede e supera. Assim, a Igreja equilibra-se por essa dupla referência: o mistério e a história, a dimensão espiritual e a dimensão institucional. O mistério da Igreja, fundado na Trindade, se encarna na história. Não é um mistério abstrato, descolado do concreto e do cotidiano da história. Em comparação com o mistério da encarnação, em que a pessoa divina do Verbo assume a natureza humana em Jesus de Nazaré, também a Igreja assume realidades materiais para poder anunciar e realizar no mundo o Reino de Deus.
Publicado na edição de setembro de 2019, do Jornal da Arquidiocese, página 05
Por Pe. Vitor Feller