Sobre Maria Madalena ou Maria de Mágdala muito se têm escrito e falado. A sua principal característica é ter sido ela uma das primeiras testemunhas da ressurreição de Jesus conforme atestam os quatro evangelhos. Além disso, foi pelo testemunho dela e das outras mulheres que a notícia da ressurreição de Jesus se tornou conhecida. Foi o próprio Jesus que lhe ordenou: “Vai dizer aos meus irmãos: subo para junto do meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” (Jo 20,19). E ela cumpriu o seu mandato quando junto aos irmãos declarou: “Eu vi o Senhor” (Jo 20,18).
O evangelista Lucas, referindo-se às mulheres que acompanhavam Jesus diz: “Os Doze iam com ele, e também algumas mulheres que tinham sido curadas de espíritos maus e de doenças: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios; Joana, mulher de Cuza, alto funcionário de Herodes (Antipas); Suzana e muitas outras, que serviam a Jesus com os bens que possuíam” (Lc 8,1b-3).
A misericórdia divina por meio de Jesus curou doentes e expulsou espíritos impuros de muitas pessoas. Não foi apenas de Maria de Mágdala que espíritos impuros foram expulsos, mas também do endemoninhado de Gerasa e da filha da mulher siro-fenícia. Em relação à Maria de Mágdala, os sete demônios são muitas vezes interpretados como a causa de que ela cometesse inúmeros pecados. Isso é uma interpretação errônea. Na época uma pessoa possuída por espíritos impuros era considerada como pecadora e, por isso, excluída. Para Jesus isso não era importante e, sim, sua ação em libertar os aprisionados por doenças e espíritos que deixavam as pessoas à margem da sociedade. A missão de Jesus era resgatar toda pessoa pecadora: “O Filho do Homem veio para procurar e salvar o que estava perdido” (Lc 19, 10).
É preciso lembrar que Maria de Mágdala não é a mulher pecadora que unge Jesus, segundo Lc 7,36-50. Se fosse Maria Mágdala, o evangelista a teria nominado, como o fez em duas outras passagens (Lc 8,2; Lc 24,10). Segundo Jo 12,1-8, a mulher que unge Jesus é Maria, irmã de Lázaro. Essas passagens são mais uma descrição da misericórdia divina que se deixa tocar por pessoas consideradas pecadoras. Para Jesus é preciso que pessoas em estado de graça e de perfeição diante de Deus, convivam com pessoas pecadoras e impuras. Porque é a pureza, o amor de Deus que precisa se mostrar e se deixar tocar para assim serem conhecidos por outras pessoas. É o que Jesus pede, hoje, a todos nós. A misericórdia de Deus caminhou com pessoas que estavam à margem da sociedade. Precisamos, nos dias de hoje, agir também com a mesma misericórdia que Jesus pediu que tivéssemos: “Vá, e faça você também a mesma coisa” (Lc 10,17b).
Por Silvia Togneri – Professora da Faculdade Católica de Santa Catarina