No dia 3 de outubro, sobre o túmulo de São Francisco de Assis, o Papa Francisco assinou a encíclica Fratelli Tutti sobre a fraternidade e a amizade social. É um convite a sonhar com um mundo novo em que prevaleça o amor sobre o ódio, a reconciliação sobre a divisão, a acolhida sobre a exclusão.
Um mundo fechado
Na análise de nossa realidade, o papa destaca o peso do egoísmo, das divisões, exclusões, parcializações, fakenews, que nos angustiam e atrapalham na construção de uma sociedade justa. Ressalta o modo cada vez mais desumano no trato com os pobres, marginalizados, migrantes, refugiados e outros, que são tratados como sacrificáveis e descartáveis. Denuncia a insensibilidade diante do grito da Terra e dos pobres. Recrimina a deterioração da ética, a desigualdade de direitos, as novas formas de escravidão, o enfraquecimento dos valores espirituais.
Um estranho no caminho
Diante dessa realidade onde parecem vencera desesperança e a desconfiança, o papa sugere que cada um de nós é interpelado por Deus e pelo próximo, a ser um estranho no caminho. Como o Bom Samaritano, que, mesmo sendo herege aos olhos dos religiosos judeus, marcou diferença diante do ferido à beira do caminho. Viu, acolheu, socorreu, curou. Foi um estranho no caminho. Também nós somos convidados a ser estranhos. Em vez de entrar no jogo da violência, pagar o mal com o mal, entrar nas redes do ódio, somos estimulados a ser “estranhos”, diferentes, construtores de paz e fraternidade.
Um mundo aberto
Envolvidos por esse mundo fechado, a nossa diferença será sonhar, pensar e gerar um mundo aberto. Um mundo em que se acolha a pluralidade de culturas, religiões, cosmovisões, modos de pensar e agir no campo da política, da economia, da organização social. Como num poliedro, com suas diversas facetas! Como na Santíssima Trindade, onde a unidade acontece na acolhida da diversidade de três pessoas que se amam tanto e tão bem que são um só Deus! Para isso é preciso ter um coração aberto a toda pessoa que precisa de nosso amor, promover uma política que se marque pela disposição ao serviço de todos, sobretudo dos mais vulneráveis, insistir na cultura da proximidade, do encontro e do diálogo, valorizar as religiões como caminhos para a fraternidade universal.
Por Pe. Vitor Galdino Feller
Artigo publicado na edição de novembro de 2020 do Jornal da Arquidiocese, página 5.