Na edição anterior do Jornal da Arquidiocese, vimos que a carta de São Paulo aos Romanos é uma carta de apresentação, para os cristãos de Roma, de Paulo e do seu “Evangelho”, isto é, uma síntese daquilo que ele anunciava em suas viagens missionárias. Muitos tentaram, sem muito consenso, encontrar uma temática fundamental do livro. Com efeito, há uma pluralidade de temáticas conexas: – a temática teológica, enquanto revelação da justiça de Deus; – o discurso sobre Jesus Cristo, e as mediações próprias do seu sangue e da sua ressurreição; – o discurso sobre o ser-humano, isto é, o domínio do pecado, a presunção das obras, a suficiência da fé para a salvação; – elementos histórico-salvíficos, tal como a função do povo de Israel e o problema da sua incredulidade; – questões ecumênicas, na medida em que discursa sobre a igualdade dos judeus e pagãos diante da graça de Deus em Cristo; – temáticas morais, ou seja, a exigência de um comportamento humano conforme ao amor demonstrado por Deus na morte de Jesus e à nova identidade que o batizado adquire com o batismo; – e ainda, temáticas relativas a prospectiva de um cumprimento definitivo nos últimos tempos.
Todas essas temáticas, conectadas, nos falam da boa notícia da revelação da justiça de Deus para todos os fiéis, judeus e pagãos, cuja união mística com Cristo significa uma participação do batizado na morte de Cristo, bem como a sua entrada na vida do Senhor ressuscitado e a fruição do dom vivificante do Espírito Santo.
O livro possui o estilo típico de uma “carta”, embora se apresente também como um “tratado”, cujas partes maiores são: I) Introdução (Rm 1,1-15); 2); II) Seção doutrinal (1,16–11,36), centrada sobre a boa-notícia da salvação de Deus por meio de Jesus Cristo; III) Seção exortatória (12,1–15,3), onde se apresentam as exigências morais da vida nova em Cristo; IV) Conclusão (15,14-33); V) Carta de recomendação para Febe (16,1-23); VI) Ação de graças (16,25-27). O fato de 4/5 da epístola ser uma reflexão sobre a salvação pela fé, e 1/5 ser relativo às suas consequências morais, indica a fé como o fundamento da novidade cristã, porém, uma fé operosa, que se vai manifestando na vivência concreta do amor.
Por Pe. Gilson Meurer
Publicado na edição de Agosto/2018, nº 248, do Jornal da Arquidiocese, página 08.