A Igreja Católica está vivendo algo inédito: o Sínodo dos Bispos sobre Sinodalidade. Pela primeira vez um terço dos participantes da assembleia sinodal será formado por não bispos, mas padres, freiras, leigos e leigas. O sínodo começou dois anos atrás com a caminhada sinodal: todos os fiéis, também os afastados, foram chamados a responder a um questionário que avaliava a obra evangelizadora da Igreja. O resultado foi trabalhado pelas conferências episcopais de cada país e, depois, pelas conferências episcopais de cada continente, sempre considerando a presença, a voz e o voto das mais diversas categorias do povo de Deus. Em tudo isso já se foi vivendo a sinodalidade, isto é, a concepção de que todos somos membros da Igreja, somos povo de Deus em comunhão e em caminhada. Desde o início o papa Francisco tem insistido que o sínodo se realize na escuta do Espírito Santo.
O que o Espírito diz às Igrejas
Os capítulos 2 e 3 do Apocalipse repetem a admoestação: “ouça o que o Espírito diz às igrejas”. Trata-se das igrejas de Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia, Laodiceia. Hoje seriam as nossas dioceses. O Espírito Santo pede que as igrejas permaneçam fiéis ao primeiro amor, enfrentem com coragem toda tribulação, fiquem vigilantes à espera do dia do Senhor, perseverem na prática das boas obras, reavivam o dom recebido. O Papa Francisco exige que se escute o que o Espírito de Jesus de Nazaré tem a dizer à Igreja de nossos tempos.
Escutar, Discernir, Participar
O processo sinodal é, precisamente, um processo espiritual. Não é um jogo onde prevalecerão os mais fortes e perspicazes e influentes. É um exercício de santidade comunitária, para aprender juntos a ouvir e permanecer fiéis ao Evangelho. A escuta sinodal (ouvir a todos) tem em vista o discernimento (todos ouvem, debatem, decidem), que aponta para a participação (todos participam, cada um com seus carismas e ministérios). Diz o papa: “escuta de Deus até ouvir com Ele o grito do povo; escuta do povo, até respirar nele a vontade para a qual Deus nos chama”.
Metodologia do silêncio e da escuta
Para bem ouvir o Espírito Santo é preciso ouvir o povo (como se fez nesses dois anos de caminhada sinodal) e os participantes da assembleia sinodal (que acontece neste mês, em Roma). Para isso ajudará a metodologia do silêncio e da escuta. Depois de alguns apresentarem palestras, discursos, relatórios etc., todos são convidados a um longo tempo de silêncio, para remoerem, deixarem repercutir em seus corações o foi dito. As novas exposições ou falas não podem repetir o que já se disse, mas devem expor o que o Espírito Santo vai falando nos corações. Que o Espírito do Pai derramado sobre Jesus de Nazaré e a Igreja apostólica continue a guiar cada seguidor de Jesus e a Igreja de nossos tempos.
Artigo publicado na edição 305 do Jornal da Arquidiocese, em outubro de 2023, na página 5.