Não sei quantos brasileiros têm férias anuais, segundo o direito que lhes assegura a Constituição do Brasil. Mas a preocupação de muitos não é nem com as férias, e sim com a impossibilidade de terem a carteira de trabalho assinada. Esses sonham com uma situação que os ajude a superar a fase do desemprego ou do subemprego – fase muito humilhante para quem se encontra no auge de suas capacidades físicas e mentais.
Considerando aqui aqueles com direito a férias, seria interessante saber quantos deles têm condições de sair de seu mundo cotidiano, para conhecer outras realidades e conviver com outras pessoas. O litoral catarinense, especialmente no verão, mostra que esse número não é pequeno. São milhares e milhares de turistas que chegam de perto e de longe, com muitas malas no avião, no carro ou no ônibus, e muita esperança no coração. Tais pessoas querem fazer destas as férias inesquecíveis. Desejam descansar, após um ano marcado por trabalhos, preocupações e incertezas. No íntimo de cada pessoa há um profundo desejo de se realizar através de novas experiências, do encontro com a natureza, da prática de esporte, do conhecimento de outras pessoas ou localidades. Todos buscam a felicidade, o paraíso perdido e, talvez sem saber, o próprio Deus.
Encontrar Deus, contudo, não é fácil. A cultura secular de nosso tempo não lhe dá importância, tempo ou lugar. Espalha-se a convicção de que sonhos, problemas e inquietações podem ser resolvidos com dinheiro, lazer, conforto etc. Se, além disso, a vida da pessoa não for conduzida por uma perspectiva sobrenatural, viverá segundo a convicção que assim foi resumida pelo apóstolo Paulo: “Comamos e bebamos porque amanhã morreremos” (1Cor 15,32).
Para que as férias sejam restauradoras precisam de uma “alma” que as revigore. Evitando, pois, o que for desonesto ou nocivo, deve-se procurar uma harmonia entre o descanso e as exigências espirituais (leitura da Palavra de Deus, por exemplo), e escolher maneiras de se divertir que sejam dignas do ser humano. Não esquecer, além disso, que as férias nos possibilitam um encontro especial com a natureza: podemos contemplar as estrelas do céu, o sol que nasce, a flor com suas cores, o mar que cada hora é diferente… Tudo isso nos aproxima da experiência do Salmista, que cantava: “Os céus proclamam a glória de Deus” (Sl 19).
As férias são uma excelente ocasião para o cultivo do silêncio. Não penso na simples ausência de barulho, mas na capacidade que cada um tem de se escutar, de escutar os outros e de escutar Deus. Lembrava Santo Agostinho que Deus está no mais íntimo do nosso íntimo.
É tempo de férias. É tempo de descanso. Mas é também tempo de um encontro especial com Deus.
Artigo publicado na edição 2024, da Revista de Verão da Arquidiocese, página 3.