Desde as primeiras edições, Pe. Vitor Feller escrevia artigos para o JA. Neste mês, retomaremos um artigo escrito por ele na edição n° 2 do JA em novembro 1996.
O mês de novembro inicia com duas importantes celebrações litúrgicas: a festa de todos os santos e a comemoração de todos os fiéis falecidos. Além disso, neste mês concluímos o Ano Litúrgico, celebrando os últimos domingos do tempo comum, com leituras da Palavra de Deus que nos põem diante das últimas realidades: o fim dos tempos, o julgamento final, a consumação de todas as coisas e de todos os seres humanos em Deus. Por estes motivos, se entende o tema deste mês: morte e ressurreição.
Quando nós, cristãos, falamos da morte, a entendemos como passagem, como Páscoa. Podemos falar da morte como de um segundo nascimento. Nascemos para um outro nível de existência. Um dia deixaremos o útero de nossa mãe terra para viver a vida eterna, na comunhão com Deus e todos os seus filhos e filhas, na felicidade do céu. Nós não acreditamos na reencarnação, mas na ressurreição! Continuaremos vivendo, na mesma consciência da nossa personalidade, mas num outro modo, perfeito e completo. Nossa vida é uma só, única e irrepetível, na totalidade do nosso ser, experimentada em diversos estágios: no ventre da mãe, no útero da terra, na comunhão com Deus. Até se poderia dizer, em linguagem poética, que passamos a viver no útero de Deus.
Se a morte é vivida como dor e pavor, medo e angústia, tanto para quem parte como para quem fica, nós cristãos a vivemos também como entrega suprema de amor, como doação agradecida e alegre de tudo o que somos e fazemos ao Senhor único de nossa existência. Por isso, na morte, nós, cristãos, celebramos a ressurreição, a passagem da morte para a vida.
O apóstolo João escreveu em sua primeira carta: “Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama permanece na morte” (1Jo 3, 14).
Jesus mesmo pôs como critério para passar da morte para a vida o amor aos irmãos e irmãs mais carentes: alimento para os famintos, veste para os desabrigados, moradia para os sem-teto, saúde para os doentes, dignidade para os encarcerados, enfim, caridade e justiça social, sobretudo em favor dos mais carentes (Mt 25, 31-46). Quem não ama, não ressuscita.
A maneira como nós concebemos e experimentamos a morte nos indica quanto nós promovemos e defendemos a vida, lutamos pela dignidade dos continuamente ameaçados pela morte e, enfim, nos empenhamos, como Cristo, “para que todos tenham vida e vida plena” (Jo 10, 10). Quem dá valor à vida não tem medo da morte! Nós não mascaramos a morte, chamando-a eufemisticamente de desencarnação, banalizando-a nos meios de comunicação, silenciando sobre ela. A morte faz parte da vida. O cristão a enfrenta como Jesus, suportando a cruz de cada dia, assumindo os conflitos inerentes à vida cristã, oferecendo tempo e disposição pelo bem dos mais necessitados, morrendo dia a dia para dar a vida aos irmãos e irmãs. O cristão transforma a cruz de cada dia, os sofrimentos e dores, doenças e aflições, em sinais de ressurreição e vida nova!
Não vivemos do passado, vivemos do futuro!
