Na exortação apostólica pós-sinodal Amoris Laetitia sobre o amor na família, o Papa Francisco dedica todo o capítulo VIII às situações chamadas “irregulares”.
O IDEAL E A REALIDADE
Primeiramente, apresenta o ideal cristão do matrimônio, “reflexo da união entre Cristo e a Igreja”, na doação recíproca de um homem e uma mulher que, “com um amor exclusivo e livre fidelidade, se pertencem até a morte e se abrem à transmissão da vida, consagrados pelo sacramento que lhes confere a graça para se constituírem como igreja doméstica e serem fermento de vida nova na sociedade”. A seguir, reconhece que “algumas formas de união contradizem radicalmente este ideal, enquanto outras o realizam pelo menos de forma parcial e analógica”. O que fazer com estas situações? O papa responde: “a Igreja não deixa de valorizar os elementos construtivos nas situações que ainda não correspondem ou já não correspondem à sua doutrina sobre o matrimônio” (AL, 292).
O PRINCÍPIO DA GRADUALIDADE
Muitos casais, principalmente jovens, se unem apenas numa mera convivência ou num matrimônio apenas civil, às vezes na espera da aquisição de maior segurança existencial (moradia, emprego e salário fixo), nem sempre por preconceitos e resistências à união sacramental. O papa sugere que, nesses casos, se use o princípio da gradualidade: diálogo com essas pessoas “a fim de evidenciar os elementos da sua vida que possam levar a uma maior abertura ao Evangelho do matrimônio na sua plenitude” (AL, 293) e enfrentamento de “todas estas situações de forma construtiva, procurando transformá-las em oportunidades de caminho para a plenitude do matrimônio e da família à luz do Evangelho” (AL, 294).
A LÓGICA DA INTEGRAÇÃO
As situações de fragilidade e de imperfeição, diz o papa, precisam ser acolhidas na lógica da integração. Refere-se a “duas lógicas (que) percorrem toda a história da Igreja: marginalizar e integrar” e recorda que “o caminho da Igreja é sempre o de Jesus: o caminho da misericórdia e da integração”. Por isso, “não condenar eternamente ninguém, (mas) derramar a misericórdia de Deus sobre todas as pessoas que a pedem com coração sincero”, na prática de uma caridade “sempre imerecida, incondicional e gratuita” (AL, 296).
Artigo publicado na edição de agosto/2016, nº 226, do Jornal da Arquidiocese.