Vivemos uma crise da figura do pai. Crianças, adolescentes e jovens têm dificuldades no relacionamento com seu pai. Há muitos pais omissos, violentos, irresponsáveis, ausentes. Em termos de transmissão da fé, aparece aqui o problema da imagem de Deus-Pai. Muitos fiéis transferem para Deus os seus problemas com o pai terreno. A fé cristã nos convida a fazer da experiência de Deus-Pai o ponto de partida de nossos pensamentos, orações, atitudes e decisões.
PAI DE JESUS E NOSSO PAI
Para nós cristãos, Deus-Pai não é apenas criador do mundo, senhor da história, libertador dos oprimidos, ninho para nosso aconchego, refúgio dos aflitos. Não é apenas o arquiteto universal, uma consciência cósmica, um centro irradiador de energias. Não é tapa-buracos, quebra-galhos, pronto-socorro. Não é apenas uma força animadora da vida do mundo, presente e dispersa nos elementos da natureza. Ele é o Pai de Jesus Cristo. Antes de ser criador do mundo e senhor da história, ele é, na intimidade da vida intra-trinitária, o Pai eterno do Verbo eterno.
CHAMAR A DEUS DE PAI
Para chamar a Deus de Pai, é preciso ser cristão. Só aos seguidores de Jesus Cristo foi dada essa graça, essa revelação. Embora a paternidade do Pai seja um dom para toda a humanidade, o fato é que, em termos de consciência explícita dessa revelação, só nós cristãos temos o dom de conhecer e amar o Pai, porque só nós conhecemos o Filho e nele cremos. É a graça da fé cristã. Jesus de Nazaré, o Filho de Deus feito homem, ensinou: “Ninguém conhece o Filho senão o Pai e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11,27).
VIVER COMO FILHOS
A mais bela e profunda experiência que um cristão é chamado a fazer é esta: uma relação afetiva, afetuosa, com Deus-Pai! Essa experiência servirá de trampolim para lançar-nos no mergulho da vida, na luta pelos direitos civis e sociais e econômicos dos irmãos, sobretudo dos pobres. Assim é que Deus-Pai nos torna seus filhos e, portanto, verdadeiramente humanos.
Nestes tempos seculares de noite da fé, o cristão é chamado a retornar às fontes de sua fé: o amor de Deus-Pai. A graça de ter um Deus que é Pai e de ser por ele amado, eis o verdadeiro humanismo de que precisa o ser humano em sua ânsia de liberdade, em seus anseios de justiça e paz.
Publicado na edição de agosto de 2019, do Jornal da Arquidiocese, página 05
Por Pe. Vitor Feller