primeira carta de São Paulo aos tessalonicenses, enviada em meados dos anos 51 (cf. comentário nas duas últimas edições desse jornal), repercutiu bem na comunidade, conquistando a tranquilidade almejada naqueles que estavam preocupados com a sorte dos mortos (1Ts 4,13-18). A carta serviu tão bem ao seu propósito que Paulo lhes enviará uma segunda, bem como adotará esse meio com outras comunidades no futuro.
Uma carta, porém, não tem a vantagem de correções de interpretações que uma conversa presencial permite. Infelizmente a primeira carta levantou
outras dúvidas e suscitou interpretações que exigiram uma segunda carta esclarecedora. Ao que tudo indica, o olhar para o além, a esperança na vinda do Senhor, o convite à vigilância, atenção e sobriedade, enunciados pelo apóstolo na primeira missiva, suscitaram inquietações na comunidade sobre uma “iminente vinda do Senhor” (2Ts 2,3). O alarmismo de um “fim do mundo” próximo alastrou-se ainda mais em razão do aumento das perseguições que os cristãos estavam sofrendo “da parte de quem não conhece a Deus nem obedece ao Evangelho de Jesus Cristo” (1,8). Em consequência, surgiram fanáticos semeando caos na comunidade (2,2-3), e outros abandonaram seus trabalhos e responsabilidades, levando “vida à-toa, muito ocupados em não fazer nada” (3,11).
São Paulo busca corrigir os desvios por meio de uma segunda carta, pela primavera de 52. Após render graças a Deus pela perseverança na fé e no amor da comunidade, servindo de exemplo para todas as “Igrejas de Deus” (1,3-5), o apóstolo afirma que a vinda do Senhor não está próxima (2,2). Antes, de fato, deve acontecer a “apostasia” e aparecer “o ímpio”, “o adversário que se levanta contra tudo que se chama Deus”, que vai seduzir, “com toda sorte de portentos, milagres e prodígios mentirosos”, e “pela injustiça”, levando muitos a crer na mentira e não na verdade (2,1-12). Esses sinais não são indicativos temporais, pois já se viam no tempo de Paulo (2,7) e, portanto, não atentam a dizer “quando” virá o Senhor, mas eles são espirituais, a fi m de orientar “como” devemos esperá- lo: “salvos mediante a santifi cação do Espírito e a fé na verdade… participando da glória do Senhor por meio do Evangelho… fi rmes, guardando as tradições ensinadas oralmente e por escrito” (2,13-17) .
Portanto, seguindo as diretrizes do apóstolo (3,4), o melhor a fazer é viver a vida ordenadamente, “trabalhando na tranquilidade, para ganhar o pão com o próprio esforço” (3,12), “não se cansando em fazer o bem” (3,13). Nessa carta, São Paulo nos ensina que a esperança cristã não é passiva, parada, braços cruzados “esperando” sem fazer nada, mas ativa, no trabalho e no bem, e atenta, contra toda sorte de maldade e injustiça.