A história de José Eduardo de Oliveira, de 52 anos, impressiona qualquer pessoa que conheça a Pastoral do Povo de Rua. Natural de Jacarezinho, no Paraná, Eduardo se mudou ainda novo com a família para uma das favelas de São Paulo. No Jardim Albertina, ele viu seus amigos irem para o tráfico e a violência. Sua infância também foi marcada pelo bullying. As cicatrizes que traz em seu corpo por causa de um acidente doméstico aos três anos de idade também deixou marcas em sua alma. Apesar do preconceito por causa das cicatrizes, Eduardo conta que essa foi a primeira vez que o Senhor resgatava a sua vida. “Os médicos não deram esperanças para a minha mãe. Mas ela, muito devota de Nossa Senhora, fez uma promessa e eu me recuperei”, conta.
Aos 11 anos virou o “homem da casa”, com o abandono do pai à família. “Mesmo vivendo uma adolescência muito violenta, eu quis focar nos estudos porque sabia que era a minha oportunidade para uma vida melhor pra mim e pra minha família”, adiciona Eduardo.
O desejo da mãe era claro: queria um filho padre ou agrônomo. Ele escolheu a agronomia. Se formou com muito esforço e logo alcançou uma carreira de muito sucesso em uma multinacional, ajudando a sua família. Morou em quase todos os estados brasileiros e acumulou experiência no exterior. Parecia tudo certo em sua vida até que, em 2012, descobriu um câncer de pâncreas e tentou o suicídio. “Perdi o sentido de vida com 42 anos. Achava que já tinha realizado tudo o que tinha para realizar na vida”, explica. Então ele começou a jogar baralho. Nessa época, ele trabalhava em um cargo comissionado em uma prefeitura do interior paulista e, em 9 meses, já havia perdido no jogo todos os bens que havia conseguido com seus anos de trabalho, até devendo à agiotas. Sem nada, um amigo o convidou para ir para o Espírito Santo, mas na rodoviária Eduardo escolheu outro destino. “Era o dia 30 de janeiro de 2013. Cheguei na rodoviária e olhei os destinos de ônibus e escolhi: Florianópolis. Nunca mais me esqueci daquele dia”, descreve.
Na capital catarinense, sem dinheiro, sem amigos e sem oportunidades, Eduardo passa a viver nas ruas. Foram 20 meses em que ele contava com a caridade da Igreja e de instituições para as coisas mais básicas, como comida. Foi numa das entregas de marmita à população de rua na frente da Catedral, em 2015, que ele ouviu falar de uma pessoa que poderia ajudá-lo: Ivone Maria Perassa, coordenadora da Pastoral do Povo de Rua. “Alguém me passou o telefone dela e eu expliquei que tinha arrumado um emprego, mas que precisava de ajuda para conseguir uma moradia, mesmo que muito simples, para que eu finalmente conseguisse sair da rua. Mesmo sem me conhecer ela disse sim e me ajudou com o primeiro mês de aluguel. Foi o início da minha nova vida”.
Tempo depois, conheceu pessoalmente Ivone e pode agradecer pela ajuda providente. Esse contato mudaria a vida dele novamente, com ela o convidando para ajudar na Pastoral do Povo de Rua. “Eu me descobri um missionário. Trabalhar na pastoral é a maior faculdade que eu já fiz, é a da vida. Hoje me considero um ‘poeta social’, ajudando a levar esperança, carinho, aconchego, acolhida e nova perspectiva de vida às pessoas que vivem na rua. O que a pastoral fez na minha vida eu tento que faça também na vida de outros. Deus resgatou a minha vida tantas vezes para que eu pudesse ajudar a mudar a sociedade; para também oferecer e testemunhar essa ‘vida nova’”, analisa.
Atualmente, além de seu serviço na Pastoral do Povo de Rua, Eduardo trabalha como assessor de gabinete de um vereador da capital.
Reportagem publicada na página 6 do Jornal da Arquidiocese, nº 288, de abril de 2022.