A imagem de madeira sobre a mesinha da sala foi um presente de casamento. Aliás, não qualquer presente, mas um pedido dos recém-casados Andressa Cacenot e Tiago Vick a um casal de padrinhos. A escultura, de aproximadamente 30 cm, traz três significativos personagens: Maria, Jesus e José.
A enfermeira de 27 anos não esconde no sorriso a emoção de falar sobre Nossa Senhora. Durante a entrevista, ela se esforçava para encontrar palavras que expressassem tamanho carinho à mãe de Jesus. “Minha devoção a Maria é de muito antes de eu entender quem era Nossa Senhora, algo que veio de família. Desde cedo aprendi a pedir a proteção da mãezinha do céu”, relata.
Quem sempre ouviu falar da mãezinha do céu, também, é a Dona Ana, esposa do Seu Adilson. Moradora da Barra da Lagoa, em Florianópolis, Ana Sirlei de Andrade Borges, recorda com alegria quando sua mãe ia acordar os filhos cantando ou assoviando uma cantiga para crianças que lembra de Nossa Senhora.
Ana tem três filhos e garante que é “uma das que mais incomoda Nossa Senhora”. “Com meus filhos morando longe, sempre peço a intercessão e o amparo da Virgem Maria”, confessa.
Imitação
“Como é uma amizade que vem de muito tempo, principalmente ao me tornar mãe, criei uma relação íntima com Nossa Senhora”, comenta Melissa Queirós. “Sempre ficava pensando como será que Maria agia no dia a dia”, exemplificou, quando revela que vê em Nossa Senhora a inspiração para o cuidado dos filhos e do matrimônio.
Aliás, assemelhar-se à Virgem Maria é uma atitude daqueles que têm uma verdadeira devoção mariana, explica o Pe. Wellington Cristiano. “O culto mariano é caracterizado por um ato de veneração e amor, invocação e imitação, como cita a Constituição Dogmática Lumen Gentium”, define.
O documento ainda destaca que “a verdadeira devoção não consiste em sentimentalismo estéril e passageiro, ou em vã credulidade, mas procede da fé verdadeira que nos leva a reconhecer a excelência da Mãe de Deus e nos inscita ao amor filial para com a nossa mãe, e à imitação das suas virtudes”.
A exemplo de Maria, que ao saber que sua prima Isabel – de idade avançada – estava grávida, partiu ao encontro de sua parenta, Ana Sirlei também busca sempre ir ao encontro dos necessitados. “Eu procuro muito ajudar minha comunidade, estar presente em diversos serviços”, enfatiza.
Fé
Alexandre Queirós, o esposo da Melissa, conta uma emocionante história familiar. Sua mãe era protestante e seu pai católico. Nesse cenário, a devoção mariana não foi muito difundida dentro de sua casa.
Somente após ficar mais velho, em um retiro do Movimento de Emaús, é que Alexandre se aprofundou no catolicismo. “Tive uma experiência linda com Maria e depois é que fui entender que eu estava antes em um processo de conversão”, observa.
Ele realça que quando sua mãe ficou doente, já no final da vida, junto com seus irmãos, pedia a Deus pela cura e pela conversão dela. “Maria foi a porta de entrada da minha mãe para a religião católica”. Alexandre conclui a história lembrando que sua mãe recebeu o Sacramento da Reconciliação e da Eucaristia. “E essas foram as últimas palavras dela – a confissão – e o último alimento – a Eucaristia”.
“Mesmo nos momentos de sofrimento, quando se tem a referência de Maria aos pés da cruz, o sofrimento transforma-se em consolo. Cria-se uma empatia”, acrescenta Melissa.
O centro é Cristo
Padre Wellington recorda uma distinção fundamental na devoção a Nossa Senhora: “a Maria é reservado o culto de hiperdulia, isto é, um grande culto de veneração, acima de todos os santos, sem, contudo, confundir-se com a latria (adoração), que é reservada a Deus”. Volta e meia o tema vem à tona e é ponto de conflito, muitas vezes, entre católicos e protestantes.
Quanto a isso, o magistério da Igreja escreveu diversos documentos que fundamentam a fé no que se refere à Virgem Maria. Na Exortação Apostólica Marialis Cultus, por exemplo, o Papa Paulo VI enfatiza a importância de uma sóbria devoção mariana para “que os exercícios de piedade para com a Virgem Maria exprimam, de maneira clara, a característica trinitária e cristológica que lhes é intrínseca e essencial”. Citando a exortação, Pe. Wellington é enfático: “em Maria, tudo é relativo a Cristo”.
Confira trechos das entrevistas neste vídeo:
Características
O que mais chama a atenção em Nossa Senhora, foi uma das últimas perguntas feitas aos fiéis entrevistados nesta edição. A jovem Andressa Cacenoti antecipou-se e disse: “o silêncio”. Dona Ana frisou essa mesma característica. “Maria guardava tudo no coração. Aprendo muito a silenciar com ela”, concluiu a catequista.
Além do silêncio, Melissa salientou a “entrega”. “O sim de Maria é o maior exemplo de fé. Ela expressa um amor incondicional, uma ternura, um carinho muito grande”, declara. “Vejo Maria e já penso: confiança total”, pontua.
Já Alexandre destacou a serenidade. “Aquela que acredita profundamente em Cristo, que aponta para Cristo”, enaltece. E Andressa acrescenta ainda mais duas virtudes: “a constância e a determinação”.
Em 1717, três pescadores, levados por necessidades econômicas, saíram a pescar, numa época escassa de peixes. Por ação misteriosa de Deus, chegando ao “Porto de Itaguassu”, a primeira coisa que caiu em suas redes foi o corpo de uma imagem quebrada, na altura do pescoço. Num segundo lance de rede, pescaram a cabeça da mesma imagem. Juntando as duas partes viu-se que se tratava da Senhora da Conceição. Depois do encontro da imagem, a pesca de peixes foi abundante e os pescadores intuíram a presença e ação de Deus naquele singular evento.
“O cenário do rio, da pesca e dos pescadores lembra claramente o chamado dos primeiros apóstolos de Jesus. Eles eram pescadores. Não podemos esquecer, igualmente, o sinal da pesca abundante que acompanha o achado da imagem”, argumenta Pe. Wellington sobre o significado ao redor da aparição da imagem.
Feita de terracota, a imagem de Nossa Senhora Aparecida provém de terras brasileiras. Depois de achada, foi introduzida na casa de um dos pescadores. Construiu-se, em seguida, uma capelinha. O número de peregrinos devotos começou a multiplicar-se. Da pequena capela, ergueu-se o grande Santuário dedicado à Mãe de Deus, no Estado de São Paulo.
A santa foi, então, proclamada Rainha, em 1904, e Padroeira do Brasil, em 1930.
Programação da visita da Imagem Jubilar nas Foranias.
Com informações do Projeto Rota 300
Santuário Nacional
O Santuário de Nossa Senhora da Conceição Aparecida é o maior santuário no mundo dedicado a Maria, Mãe de Deus. Está localizado no Vale do Paraíba, no eixo Rio – São Paulo. A pedra fundamental da Basílica Nova foi lançada em 10 de setembro de 1946, e as atividades religiosas no Santuário, em definitivo, passaram a ser realizadas a partir do dia 03 de outubro de 1982, quando aconteceu a transladação da Imagem Milagrosa da Antiga Basílica para a Basílica Nova.
Reportagem de capa da edição de agosto de 2016, do Jornal da Arquidiocese, páginas 06 e 07.