Quaresma: um caminho pessoal e comunitário de conversão sinodal

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Quaresma: um caminho pessoal e comunitário de conversão sinodal

A Quaresma é um caminho dinâmico para a Páscoa, um caminho de preparação para o tempo central da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor: o Mistério Pascal. Um caminho dinâmico, não apenas pessoal, mas comunitário, como “Povo de Deus”. O ano de 2022, tendo em conta o contexto eclesial de sinodalidade, é o ano em que, na Quaresma, não devemos relegar esta característica eclesial comunitária, pois somos um “povo que caminha”.

A Quaresma deste ano coincide com o final da primeira “fase sinodal” que vive a Igreja: “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão.” O contexto eclesial desta Quaresma coincide com a chamada “fase diocesana” de consulta ao Povo de Deus na qual toda a Arquidiocese de Florianópolis está envolvida, em suas paróquias, comunidades, movimentos…

Para 2022, a proposta para a comunidade em geral é simples: fazer este caminho em paralelo “Quaresma-Caminho Sinodal”, para que possamos ajudar as pessoas e as comunidades a fazer caminho de conversão sinodal. Como um êxodo desde o deserto das nossas vidas (pré-pandemia) para um tempo, uma nova terra, de superação de todas as tentações como Igreja e como pessoas. A Quaresma será, então, o tempo para voltar ao essencial nesta “quarentena” litúrgica em que procuramos a cura da nossa vida pessoal e comunitária, deixando-nos tocar pelos apelos que o caminho sinodal nos faz. Há que fazer a “revisão médica” do nosso “corpo eclesial”, que inclui também a “revisão médica” de cada um de nós como membros deste “corpo comunitário” que é a Igreja.

Proposta para trabalhar na Quaresma

Podemos partir da situação de deserto (pandemia, igrejas vazias…) e caminhamos para a Páscoa do Ressuscitado em quem se encontra a plenitude de uma Igreja Sinodal. No caminho, não há tentações apenas no primeiro domingo, mas em todos os domingos somos convidados a perceber situações que nos podem desviar do caminho sinodal.

Quarta-Feira de Cinzas – 2 de março
A Quaresma que se iniciou é o tempo da conversão pessoal e comunitária, tempo para voltar ao essencial, procurando a “cura” para a vida pessoal e da comunidade, na escuta do que o Espírito diz à Igreja. Esse é também o movimento que anima o processo sinodal.

Domingo 1 (06/03) – O caminho do discernimento
As tentações exigem que saibamos discernir qual é o verdadeiro caminho. Acompanhados por Jesus, retomamos o bom caminho sinodal.

Domingo 2 (13/03) – A luz da esperança
Com Jesus, subimos à montanha onde experimentamos a luz da esperança que brota do rosto transfigurado de Jesus, frente a uma nova tentação: a da instalação numa Igreja-Comunidade tipo “estufa” (que bom é estar aqui! Façamos três tendas…). Essa luz convida-nos a descer da montanha e a continuar a caminhar, mesmo que mais lentamente. Animados pelo ícone do Sínodo: O povo de Deus está em movimento, caminhando juntos, sinodalmente e unidos debaixo da sombra da árvore da vida, desde que se começa a caminhar.

Domingo 3 (20/03) – Uma nova oportunidade
De novo no caminho, por vezes na tentação, como os discípulos, de acreditar que a Igreja é perfeita e não há nada para mudar ou reformar. Os maus são os outros e por isso pagam pelos seus pecados. Mas Jesus diz-nos que todos somos pecadores, que a Igreja não é perfeita. Dizia alguém que é uma loucura fazer a mesma coisa, uma e outra vez, esperando obter diferentes resultados. A conversão do coração e a reforma da Igreja são muito lentas. Não é fácil converter o modo de pensar e agir, à semelhança do olhar compassivo de Jesus. É necessária muita humildade. Deus supera a nossa autossuficiência e tem tanta paciência que dá uma nova oportunidade para a conversão e para caminhar juntos, construindo a Igreja sinodal.

Domingo 4 (27/03) – Acolher incondicionalmente
Tal como o filho pródigo, reconhecemos o nosso pecado e o pecado da Igreja. A tentação é ficarmos em uma atitude derrotista que, no caso daquele filho mais novo, se limitaria a cuidar dos porcos com um permanente lamento nos lábios: não há nada a fazer. Ou, como o filho mais velho, acreditarmos que somos perfeitos, recusando sem ambiguidades todos os irmãos pródigos dos caminhos: ao fim de tanto tempo vêm por quê? É na casa do Pai, a Igreja, que nós, os filhos, estamos cansados de tanta inoperância e estamos divididos entre nós mesmos. Mas Deus acolhe a todos incondicionalmente. A casa de Deus, o Povo de Deus, a Igreja Sinodal é uma Igreja aberta a todo o mundo, como os braços do Pai, capaz de acolher e escutar. É Ele, o Pai, quem o torna possível. É uma Igreja alegre e em festa, onde todos podem se reconhecer como irmãos.

Domingo 5 (03/04) – O olhar de Jesus
Como os fariseus e publicanos do Evangelho, também hoje, na Igreja, há quem viva prisioneiro de uma lei que condena e de um olhar carregado de preconceitos que só se preocupa com o negativo. Uma Igreja intransigente não pode caminhar porque facilmente nos divide entre justos e pecadores quando, realmente, todos somos pecadores. Jesus tem um olhar diferente, cheio de misericórdia: somos pecadores, é verdade, mas não só. O olhar de Jesus descobre também em nós novas possibilidades, acolhidos pela sua misericórdia e o seu perdão. Assim, podemos caminhar juntos, confiados uns nos outros, cheios também de misericórdia e de perdão, para chegar a ser uma Igreja verdadeiramente sinodal: em comunhão participativa com o olhar na missão.

Para a Semana Santa

A pandemia tem sido uma experiência de vida onde emerge a fragilidade: fragilidade pessoal e fragilidade comunitária. O fruto desta condição frágil é descobrir que a vida está ferida. Com Jesus estas feridas ganham sentido e rumo. O Tríduo Pascal, tempo em que penetramos no cerne da nossa experiência de fé, está marcado por três elementos essenciais: o amor, a morte e a vida. Essa é a experiência de Jesus, da qual fazemos memória nestes dias e através dos quais nos aproximamos e nos comprometemos com um modo renovado de ser Igreja, mais próxima de Jesus e do seu “estilo”, e também com um modo renovado ser cristão, de ser discípulo missionário.

Domingo Ramos (10/04) – Uma Igreja humilde
Ser humilde é renunciar à autossuficiência e aprender a escutar a voz de Deus nos acontecimentos que nos rodeiam e não, simplesmente, vacilar e desistir.

Quinta Feira Santa (14/04) – Uma Igreja fraterna
O amor que Jesus nos chama a viver não é um sentimento ou uma emoção: é antes o modo próprio que smos chamados a viver, como pessoas e como Igreja. A Igreja tem de abaixar-se para lavar os pés dos pobres deste mundo. Ser cristão ou ser Igreja não é “ter que amar”, mas antes “ser amor”.

Sexta Feira Santa (15/04) – Uma Igreja que se entrega por todos
A cruz de Jesus é a cruz de milhares de pessoas maltratadas, empobrecidas, refugiadas, desaparecidas, torturadas, vencidas. Beijar a cruz não é passar ao lado, é deixar-se transformar pelo mistério da misericórdia com que Jesus nos renova.

Domingo Páscoa (17/04) – Igreja, povo de Deus que caminha
A experiência da Páscoa é o motor da vida cristã que cria e anima a ser discípulo missionário. Ser Igreja que caminha, que se levanta de madrugada para ir ao encontro do Senhor e o reconhece nos seus prediletos, os pobres, os descartados da vida. Sonhemos juntos este caminho.

Por Diocese de Aveiro – Portugal

QuaresmaSinodalidadeSínodo 2023

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