Os judeus, quando celebram a Páscoa, fazem memória das quatro noites da salvação. Na escuridão da noite e nas trevas do coração veio a luz para salvar. Recordar as obras do amor de Deus torna presente, hoje, as maravilhas do amor de Deus. Depois de lembrar cada uma das noites bebem o cálice da salvação.
A primeira noite lembra a criação. O mundo era deserto e vazio. As trevas o ocupavam. O Verbo, que é luz, o iluminou. A criação é o surgimento da grande luz. A segunda noite lembra a figura de Abraão. Não tinha filhos. Ele era idoso e sua mulher era estéril. O nascimento de Isaac trouxe luz para a sua vida. Lembra ainda a noite do sacrifício do filho. Neste momento os céus se abaixaram e Isaac pôde contemplá-lo. Seus olhos ficaram deslumbrados com a sua perfeição.
A terceira noite lembra a manifestação de Deus no Egito. Mata os primogênitos dos egípcios e salva os filhos dos judeus. E a quarta noite é a noite da Páscoa. É a noite preparada para a libertação de todas as gerações. Ao atravessar o Mar Vermelho o povo escolhido passa da escravidão para a liberdade.
Toda história da salvação do Antigo Testamento é uma figura da libertação realizada por Cristo com sua morte e ressurreição. Na noite da paixão de Jesus a Palavra ficou muda. Foi sepultada na terra. Foi a noite da desolação e da alienação mortal. A noite da paixão de Jesus é a noite dos três rostos: da traição, da entrega e do abandono. Nas escolhas fundamentais da vida, o homem sempre está só. É na solidão absoluta diante do Pai que Cristo pronuncia o seu “Sim”- “não a minha, mas a tua vontade”. Os Padres da Igreja chamam este momento de “treva luminosa”.
A noite Páscoa de Jesus inunda o mundo todo com a luz do Messias, ressuscitado da morte para entrar no coração de todo ser humano. Acontece como com a gestação de um novo ser. A gestação não é o fim, e sim o nascimento. Na Páscoa nascemos para uma nova vida em Cristo ressuscitado.
Artigo publicado na edição de abril de 2019 do Jornal da Arquidiocese, página 02
Por Dom Wilson Tadeu Jönck, scj