A celebração do mistério pascal oferece uma rica oportunidade de entrar em contato, conhecer e de relacionar-se com Deus. O relacionamento com Deus é a experiência fundamental que dá sentido e significado a tudo na vida do ser humano. Não é exagero dizer que buscar conhecer a Deus é a atividade maior que a criatura pode realizar. Mas quem é Deus?

Os filósofos antigos já tinham se dado conta da existência de um deus único, transcendente, criador. O deus dos pagãos é um deus que pode ser amado e deve ser amado pelo ser humano, mas não pode amar. Ele não pode se misturar com o ser humano, um ser inferior. Isto significaria degradar-se. Também não pode amar porque é uma ideia, não uma pessoa, e o amor exige um outro. O deus pagão move o mundo enquanto é amado e não enquanto ama. “Nisto consiste o amor: não em nós termos amado Deus, mas em ter-nos Ele amado primeiro. Deus é amor” (1Jo 4, 10).

A Bíblia mostra um Deus que participa da história pessoal e da comunidade humana. Em várias passagens apresenta o nome e o rosto de Deus. Na sarça ardente Ele se apresenta como “sou aquele que sou”. Muitas vezes este nome foi explicado da forma como entendiam os filósofos pagãos: como um ser absoluto e abstrato, um Deus que faz sentir sua distância. Os exegetas explicam que o verdadeiro significado do “eu sou aquele que sou” é “eu existo para ti”. O Deus cristão apresenta-se próximo e operante. É o que faz entender quando se apresenta como o Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó. Ele é um Deus pessoal, não local, mantém relacionamento e se faz presente na vida dos patriarcas. “Não tenhas medo, eu estou contigo” é uma expressão que perpassa toda a Bíblia. Desta forma pode-se entender porque Ele se apresenta em Cristo como “Deus conosco”.

No Magnificat, Maria afirma “Santo é seu nome”. Oséias 11 já afirmava: “sou o santo no meio de ti”. O nome “santo” diz mais respeito ao que acontece no ser humano quando Deus entra no horizonte de sua vida. A presença de Deus surpreende o homem como um arrepio. Sob o olhar de Deus o ser humano se descobre criatura, compreende a si mesmo. A postura de Maria mostra que o ser humano nunca poderá compreender Deus. Reconhece que um Deus compreendido não será mais Deus, mas um ídolo. Kiekegaard afirma: “ não interessa saber se Deus existe, interessa saber que Ele é Amor”.

Por Dom Wilson Tadeu Jönck, SCJ

Artigo publicado na edição 288, de abril de 2022, do Jornal da Arquidiocese, página 2.

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