Palavra do Arcebispo: Fraternidade e educação

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Palavra do Arcebispo: Fraternidade e educação

A CF-22 propõe o tema “Fraternidade e Educação”. Fala-se muito de reforma educacional. Mas educar para que finalidade? Não podemos reduzir a educação a mera capacitação para a produção e o consumo. Educar é formar pessoas autênticas, livres, solidárias. É forjar vontades, alimentar espíritos, moldar corações. As histórias ao modo de parábolas ajudam a entender a sabedoria da atividade educativa. A seguir apresentamos duas.

A MULHER DO PREFEITO – Uma mulher, enquanto agonizava, teve a impressão de ser levada ao tribunal. Uma voz perguntou: Quem és tu? Sou a mulher do prefeito. Perguntei quem és, retrucou a voz, e não com quem casaste. Ela continuou: sou mãe de quatro filhos. A voz: perguntei quem és e não quantos filhos tens. Ela: sou professora. A voz: perguntei quem és e não tua profissão. Ela: sou boa cristã. A voz: perguntei quem és e não a atua religião. Ela: rezava todos os dias e ajudava os pobres. A voz: perguntei quem és e não o que fazias. Não foi aprovada e voltou para a terra. Quando se recuperou da enfermidade, tomou a decisão de averiguar quem era (A. P. Esclarín – Educar valores e o valor de educar, Paulus).

Vivemos hoje em uma cultura da despersonalização e do vazio. Damos as costas à reflexão, ao silêncio, à interioridade, à solidariedade, ao amor. A cultura moderna está cheia de mecanismos que levam a uma fuga de si. Tentam convencer que a vida é uma contínua agitação, um caminhar predeterminado que se deve fazer às cegas. Parece que tudo está montado para que a pessoa não possa encontrar-se consigo mesmo.

A MENINA E A PEDRA – Certa ocasião uma menina foi visitar um ateliê de um escultor. Permaneceu longo tempo admirando os instrumentos e todo ambiente. O que mais a impressionou, porém, foi a existência de uma pedra que estava no centro. Era tosca, sem forma, cheia de marcas. Meses depois voltou ao ateliê e se surpreendeu que no lugar da pedra estava a escultura de um cavalo que parecia querer libertar-se e começar a galopar. E perguntou ao escultor: como você sabia que dentro da pedra existia um cavalo? (A. P. Esclarín – Educar valores e o valor de educar, Paulus)

A palavra educar significa “tirar de dentro”. É educador quem não vê o educando como pedra tosca, mas como alguém que traz um tesouro dentro de si. Entende sua missão como aquele que ajuda a tirar as impurezas, a curar as machucaduras, contribui para aflorar o que há de maravilhoso que cada um carrega dentro de si. A missão do educador não se esgota em transmitir conhecimentos ou propiciar o desenvolvimento de determinadas habilidades. O educador busca formar pessoas para viver com autenticidade, com valores definidos.

TOCADOS, APENAS ISSO – José Tolentino Mendonça escreve: “Há um momento na vida em que nos apercebemos de que as questões eternas se jogam aqui, neste precário rente à terra, no interior desta experiência humana que nos parece sempre inacabada…Há um momento em que uma pequena voz sem palavras nos alcança no ponto mais vivo e singular da existência…. O nosso primeiro ciclo de aprendizagem passou obrigatoriamente pelas palavras, mas este que agora começamos não é assim. Sentimo-nos tocados, apenas isso. E isso nos chega por um excesso de alegria ou de dor, por um cansaço maior do que tudo ou por uma pergunta imprescindível, por uma vontade de sucumbir ou de renascer, em síntese, por um radical estremecimento” (A Mística do Instante).

Por Dom Wilson Tadeu Jönck, SCJ

Artigo publicado na edição 286, de fevereiro de 2022, do Jornal da Arquidiocese, página 2.

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