Palavra do Arcebispo: Cristo, Palavra Viva

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Palavra do Arcebispo: Cristo, Palavra Viva

No seu livro “A Leitura Infinita”, José Tolentino transcreve uma frase de G.Steiner: “Os usos da fala e da escrita habituais nas modernas sociedades do Ocidente estão doentes, e a doença é fatal. O discurso que tece as instituições sociais, o dos códigos jurídicos, o do debate político, da argumentação filosófica e das obras literárias, a retórica leviatânica dos meios de comunicação – todos esses discursos, em suma, estagnaram em clichês sem vida, gírias sem sentido” (p. 203).

Como nunca antes, os homens da atual sociedade se viram submergidos pela abundância de sinais verbais. Hoje as palavras já não salvam, adiam ou simulam redenções. Se torna difícil imaginar o como a prece do Centurião do Evangelho se torne realidade. “Dizei uma só palavra e o meu servo será curado” (Lc 7,7).

O “Logos” de Aristóteles pode ser definido como “voz que significa alguma coisa”. Para os gregos o Logos é o ligame espiritual profundo que mantém o mundo unido. Exprime forças criadoras que atuam em um processo contínuo. No Novo Testamento, Logos é traduzido por “Palavra”, é a tradução do vocábulo hebreu “Dabar”. Pode ser identificado como o Santo dos Santos, o lugar que guarda o segredo de Deus. Cabe destacar duas dimensões em “Dabar”. A primeira é que tem uma alma, um pensamento que esclarece o significado. A segunda é que a “Palavra” é carregada de uma força, se faz luz, realiza o que significa, se manifesta em obras na história dos homens.

Jesus é a “Palavra” de Deus. O que há de extraordinário é que a “Palavra” se fez carne, assumiu a natureza humana. As falas e ações de Cristo guardam uma porção de sentidos como toda palavra guarda. Quando é pronunciada produz um brilho envolvente e realizador. A Carta aos Hebreus diz que “de muitos modos Deus falou, mas nestes dias, que são os últimos, falou pelo seu Filho ( Hb 1,1). Jesus não é só veículo da “Palavra”, mas é a própria “Palavra”. Os seus ouvintes diziam “nunca ninguém falou como Ele” (Jo 7,53). Os Evangelhos nunca dizem, como nos profetas, a “Palavra” foi dirigida a Jesus. Ele é a “Palavra”, o revelador do Pai.

Com sua morte e ressurreição, Jesus inaugurou um novo tempo, uma nova realidade. Criou uma nova sabedoria que é capaz de compreender o humano e o divino fora das categorias de força, poder, violência, vantagens pessoais. Tornou possível ao homem participar daquilo que Ele é. É a transformação que se percebe na vida dos apóstolos: Pedro percebe a sua negação, Tomé professa sua fé, depois de duvidar. O texto de Emaús mostra o processo da mudança dos discípulos. Estão decepcionados porque tiveram suas expectativas frustradas. Afastavam-se de Jerusalém, mas não conseguiam separar-se dos acontecimentos. Jesus caminhava com eles, mas não o reconheceram. Há uma catequese que faz arder o coração. Entram na casa para a refeição. Jesus abençoa e reparte o pão e eles o reconhecem. E voltam para se reunir com os demais apóstolos. Ainda: revela-se na casa, o novo templo, e se dá a conhecer longe do túmulo que é um lugar contrário à vida. Por último, O Gênesis mostra: abriram-se os olhos e Adão e Eva viram que estavam nus. Em Emaús também abriram-se os olhos e reconheceram Cristo ressuscitado e na fé acolheram o novo tempo.

Por Dom Wilson Tadeu Jönck, SCJ

Artigo publicado na edição 299, de abril de 2022, do Jornal da Arquidiocese, página 2.

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