A palavra “trabalho” não teve sempre o mesmo significado através da história. Para os gregos, designava árdua atividade física e era deixado para os escravos. O essencial para os gregos era a conduta virtuosa, que se orientava por normas éticas. Havia, ainda, atividades mais bem consideradas, como cargo político, oratória, assessoria jurídica, ofício de artesão. Eram chamadas de “arte”, termo estendido também ao comércio: “arte aquisitiva”.

Já os romanos valorizavam o sucesso econômico, como forma de escapar da dependência do trabalho corporal. O trabalho físico e a labuta eram indignos do homem livre. Eram reservados aos escravos. Os romanos consideravam que quem não produzisse bens, mas os adquirisse por preço baixo para revendê-los por preço alto, não realizava um trabalho, mas praticava uma fraude. Demócrito (400 AC) considerava esta situação pior que a pobreza externa, porque vinha acompanhada da perda da honra.

Na Idade Média, o trabalho era visto como parte inevitável da vida. O trabalho era visto como louvor a Deus e uma atividade para o bem dos seres humanos. O trabalho recebia, assim, uma avaliação moral. A ociosidade era considerada um pecado capital, “a mãe de todos os vícios” (S. Tomás de Aquino). Todos tinham obrigação de trabalhar. Assim como voar é da natureza do pássaro, trabalhar é da natureza do homem. Mas havia classes privilegiadas que estavam livres do trabalho rural – sacerdotes, nobres, cavaleiros. Estes, por outro lado, exerciam funções para o bem da vida da sociedade. Os abusos aconteciam quando os poderosos se manifestavam fracos de caráter.

Com a “revolução comercial” no século XII, o trabalho deixou de ser um mero produtor de bens para suprir as necessidades diárias, passou a produzir riquezas. Assim, na Idade Moderna, o trabalho se tornou cada vez mais um modo de ganhar prestígio e prosperidade. Mas  a ascensão social era possível só aos cultos. A população humilde era explorada. Desta forma, foi se firmando progressivamente a figura do empresário, para o qual o interesse é ganhar dinheiro, cada vez mais dinheiro com o próprio dinheiro.

Em meio a toda evolução do conceito do que é o trabalho, perpassa o pensamento cristão sobre a atividade humana. O trabalho do ser humano é visto como participação no poder criador de Deus. O trabalho pertence à condição original do ser humano. A atividade humana aperfeiçoa o mundo. O trabalho serve, não só para a satisfação das necessidades econômicas, mas também para a humanização da existência humana. Cria estruturas de solidariedade. É importante para a formação da comunidade humana. A caridade se expressa no fazer.

Por: Dom Wilson Tadeu Jönck, scj – Arcebispo Metropolitano de Florianópolis