O mundo de hoje não é mais o mundo de cem ou cinquenta anos atrás. “Vivemos num mundo definitivamente globalizado” (n. 66), adverte o documento 105 da CNBB, sobre o ser e a ação dos cristãos leigos. É um mundo marcado por muitas mudanças, cuja característica principal é o acento dado ao mercado, à produção, comércio e consumo dos bens (n. 68). Em vez de uma atitude condenatória, medrosa ou insegura diante do mundo, “o cristão leigo, como sujeito no mundo, é chamado a agir de forma consciente, responsável, autônoma e livre” (n. 66).
CENTRALIDADE DO MERCADO
No mundo globalizado tudo gira ao redor do mercado. Uma nova religião, voltada para o deus Mamon (o Dinheiro), que é sustentada por um sistema tecnológico, informacional, jurídico, financeiro, sociocultural, socioespacial (n. 68 a-f), muito bem montado sobre a lógica individualista da alienação, da acomodação e da indiferença (n.71). Esta religião se expande por todo o mundo e subjuga as pessoas à sua lógica de exclusão. Fala-se de globalização da indiferença, em contraste com a sonhada globalização da solidariedade.
MUNDO DE CONSTRASTES
De um lado, esses sistemas, com suas tecnologias avançadas, “revelam a grandeza criadora do ser humano e as possibilidades reais de uma sociedade de vida mais plena” (n. 69). Por outro lado, na realidade, produzem um “bem-estar ilusório, que excita as satisfações humanas e faz com que as pessoas se iludam com as felicidades momentâneas” (n.69). Com isso, geram “déficits em relação aos direitos comuns das pessoas e dos povos” (n. 70). Na busca de maior bem-estar com o menor esforço, a lógica individualista produz satisfação individual e indiferença pelo outro, inclusão de alguns cada vez mais ricos e exclusão de maiorias cada vez mais marginalizadas.
A LÓGICA DO DESEJO
Esse regime socioeconômico encontrou sua lógica no desejo humano de consumir. Todas as propagandas do mercado trabalham para que simples desejos se tornem necessidades. Aí, as pessoas se veem quase que obrigadas a comprar. “A alma do mercado entra na alma humana” (n. 72) e faz que cada ser humano se torne adorador, servidor e propagador do deus Dinheiro. “Esse é o ápice do processo da globalização econômica: o consumo se torna o modo de vida comum cada vez mais universalizado” (n. 72).
Por Pe. Vitor Galdino Feller
Publicado na edição de abril/2018, nº 244, do Jornal da Arquidiocese, página 05.