Mais que tolerar, amar!

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Mais que tolerar, amar!

 

Frei Luiz Frigo
Frei Luiz Frigo

“Amados, amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conheceu a Deus, porque Deus é amor” (1 João 4,7-8).

Jesus amou o próximo e acolheu a todos, desde os doentes, oprimidos até as autoridades da época. Este é um dos legados que o Filho de Deus deixou para os cristãos enquanto esteve na terra. Mas o que os católicos fazem para amar os irmãos que têm religiões diferentes?

O mês de novembro convida a refletir sobre a intolerância religiosa e, principalmente, combater este mal que tem causado mortes pelo mundo. O conflito motivado pela indiferença religiosa se torna rotina nos jornais, televisores, computadores, tablets e smartphones.

Nos últimos meses, a sociedade testemunhou cenas de horror que aconteceram ao redor do mundo, como os conflitos na Síria e os atentados na Europa e na África.

Um exemplo desta intolerância aconteceu na cidade de Bamako, em Mali, onde o hotel Radisson foi local de uma atrocidade, em novembro de 2015. Três terroristas do Estado Islâmico invadiram o local atirando. Os assassinos mataram 20 pessoas e levaram170 pessoas como reféns.

Diálogo pela paz

Representantes do judaísmo, as doutoras Leonor Scliar-Cabral (D) e Ethel Scliar (E)
Representantes do judaísmo, as doutoras Leonor Scliar-Cabral (D) e Ethel Scliar (E)

Deus é amor, ele convida  todos a distribuir esse sentimento ao irmão ao lado. Matar por “religião” não vem do Pai. Neste mês, ocorre na Arquidiocese de Florianópolis, o  4º Encontro Inter-religioso, onde os adeptos das religiões abraâmicas de Santa Catarina irão se reunir para dialogar em favor da paz.

Judeus, mulçumanos e cristãos, que se remetem a fé de Abraão, encontram-se pela 4ª vez. Têm o objetivo de cultivar o que une as três religiões, e não o que as separa. “Cada um vai expor o seu lado bom. Dentro dessa fonte comum, que é Abraão, ou seja, antes de tudo, somos irmãos uns dos outros. Temos a mesma veia da vida. São Francisco de Assis é um exemplo, ele é o pai do ecumenismo. Por isso que fazem o encontro em Assis”, afirma o Vigário Paroquial da Paróquia Santíssima Trindade, em Florianópolis, Frei Luiz Antônio Frigo.

O encontro deste ano trabalha o tema “Mais que tolerância, hospitalidade”.  A palavra tolerância tem um significado fraco. “Tolerar tem uma conotação negativa, que não significa receber, acolher. Significa que está bom, ele é diferente, mas a gente até aguenta. Tolera, mas não acolhe. Não recebe, não transforma esse inimigo em amigo”, afirma Dra. Leonor Scliar-Cabral, que é judia.

A palavra hospitalidade foi escolhida devido ao significado e toda a história que possui. Como explica Leonor, “a palavra hospitalidade veio do latim hospes, se refere ao fato de Roma ser naquela época uma cidade-estado, cercada por outras cidades-estados que eram inimigas. Hospes significa o hóspede, ou seja, quer dizer que Roma acolhia as cidades inimigas para pacificar e dar hospitalidade a essas populações. A palavra significa originariamente que você recebe os inimigos e está hospedando-os na sua casa”.

O trabalho da Pastoral do Migrante atende a todos, independente de raça, religião e classe social.
O trabalho da Pastoral do Migrante atende a todos, independente de raça, religião e classe social.

A hospitalidade na prática

A Arquidiocese de Florianópolis tem a Pastoral do Migrante, com sede na Matriz da Paróquia Santa Teresinha do Menino Jesus, na comunidade da Prainha, em Florianópolis. Ela acolhe muitos migrantes, de diversos países e religiões, que precisam de ajuda todos os dias.Mas essa diferença não é obstáculo para se deixar de fazer um bom trabalho.

O atual coordenador da Pastoral do Migrante revela que o segredo para esse trabalho é ser mais do que tolerante. “Nosso trabalho aqui na Pastoral do Migrante é cristão católico. Mesmo se fosse cristão evangélico, é mais do que tolerância. O ‘amai-vos uns aos outros’ não cabe dentro de tolerância. Quando São Paulo diz ‘suportai-vos uns aos outros no amor’, não é para se levar de arrasto um ao outro, mas é para levar no amor. Isso é o que a Pastoral tem como mística. Jesus disse: eu era peregrino e tu me acolheste, eu era imigrante e tu me acolheste, quer dizer, não interessa se é mulçumano, budista, evangélico, luterano, católico ou se é vodu”, lembrou Pe. Joaquim Filippin.

A Pastoral existe desde 1996, atende de segunda a sexta, das 09h às 12h e das 13h30 às 17h30. Para mais informações ligue (48) 3225-7043.

Respeito ao próximo

Para haver um convívio de paz e

Líder islâmico em Santa Catarina, Sheik Amin Alkaram
Líder islâmico em Santa Catarina, Sheik Amin Alkaram

ntre as diferentes religiões na sociedade, a população não pode ficar de braços cruzados e esperar alguém tomar uma atitude. O Sheik Amin Alkaram, líder islâmico em Santa Catarina, orienta que o gesto de mudança tem que vir de dentro cada um, respeitando o irmão. “O simples respeito e confiança no próximo é gesto de tolerância. Isso faz com que tenhamos mais sensibilidade um ao outro. Não podemos generalizar todo mundo de forma igual. Nós temos um diálogo para chegar a um termo de respeito comum, mútuo e recíproco, para criar pontes de confiança entre um lado e outro. Muitas vezes, a desconfiança torna uma barreira entre as pessoas para cooperarem em nível social, filantrópico e beneficente. As pessoal devem olhar uma para a outra como um ser humano honrado e respeitado”.

Sheik Amin também afirma que existe ainda a falta de respeito dentro da família para com outras religiões e esse problema só vai ser resolvido se a educação começar em casa. “Saber que o seu filho está seguindo a religião que você está ensinando é uma coisa. Você deve ensiná-lo a ser uma pessoa respeitosa, religiosa, não importa qual for, mas você deve ensiná-lo que, como você tem direito de praticar a religião, o seu filho também tem o direito de praticar a sua confissão religiosa”, afirmou.

O preconceito religioso também começa dentro de casa e de cada comunidade. Sheik Alkaram diz que o papel da família não é menos que o da Igreja, Mesquita ou Sinagoga. O papel das três é mais importante que o do Estado, porque este executa as leis, mas somente os templos religiosos disponibilizam todos os elementos e requisitos para a formação do ser humano. Não somente cristãos, judeus e mulçumanos, mas outros também.

O começo da mudança

A missão é demorada. Mas o Encontro Inter-Religioso pretende ser uma iniciativa para mudar o mundo atual. Para o católico, basta se questionar: o que Jesus faria? Ele acolheria e respeitaria ou rejeitaria? Que neste mês de novembro todos possam rezar pela paz entre as religiões. Além de rezar, é preciso que cada um reveja as atitudes para viver em um mundo melhor.

O que são as religiões abraâmicas?

São as religiões monoteístas, cuja origem comum é reconhecida em Abraão ou cuja tradição espiritual é identificada com ele. As três principais religiões abraâmicas são o cristianismo, judaísmo e o islamismo.

4º Encontro Inter-Religioso
11 de novembro
19h30
Auditório da Paróquia Santíssima Trindade
Praça Santos Dumont, 94 – Trindade, Florianópolis

Encontro em Assis

Em setembro deste ano, foi realizado na cidade de Assis, na Itália, o encontro inter-religioso pela paz. O Papa Francisco antes de se dirigir ao evento disse: “Paz, paz! Que o nosso coração seja um coração de homem ou mulher de paz. E para além das divisões das religiões: todos, todos, todos! Porque todos somos filhos de Deus. E Deus é Deus de paz. Não existe um deus de guerra: quem faz a guerra é o maligno, o diabo, que quer matar todos”.

Matéria de capa do Jornal da Arquidiocese, edição de novembro de 2016, páginas 06 e 07.

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