Mais do que uma carta endereçada a uma comunidade ou pessoas particulares, pelo estilo solene e reflexivo, a carta aos Efésios parece ser uma carta circular, endereçada às diversas comunidades da Ásia Proconsular. Com efeito, a epístola se divide em 2 partes homogêneas e complementares: uma parte teológica (1,3–3,21) , ou teórica; e outra parenética (4,1–6,20), ou prática.
A primeira parte, teórica dogmática, trata do mistério da salvação em Jesus Cristo, que com o sangue da cruz, unificou todos os povos, judeus e pagãos, em um único povo, a Igreja. Cristo derrubou os muros de separação (Ef 2,14s) e os povos, outrora divididos, agora perfazem um povo unido e reconciliado num só homem novo, caminhando juntos e confiantes para o Pai, iluminados pela luz do alto (Ef 2,11-22). Cristo é o princípio e a cabeça revitalizante e unificadora de uma nova humanidade, da Igreja, que é seu corpo (Ef 1,23; 4,12.16; 5,23; 5,30). A missão da Igreja é reunir a humanidade toda em Cristo, como o corpo é unido à sua cabeça. «Há um só corpo, e um só Espírito, um só Senhor, um só batismo, uma só fé, um só Deus e Pai de todos» (Ef 4,4s).
A segunda parte, consequência prática da primeira, convida todos a levarem uma vida digna da nova vocação em Cristo. “Exorto-vos, pois… a andardes de modo digno da vocação a que fostes chamados” (4,1). Conclama todos à unidade, superando as divisões, rixas, queixas, rivalidades, competições, pelo respeito a todos os membros do único Corpo de Cristo. Pertencentes a tão sublime Corpo, devemos honrá-lo com uma vida digna, pura, longe da devassidão, fornicação, idolatria. As relações familiares, entre marido e mulher, pais e filhos, sejam harmoniosas, baseadas no serviço uns dos outros (Paulo usa o termo “sujeição”), no amor, na santificação, no cuidado. Também as relações entre senhor e servo, devem ser vividas no espírito do mútuo respeito. Mesmo que utilize os termos “sujeição”, “obediência”, “senhor”, “servo”, Paulo transforma o sentido deles ao evocar a relação Cristo-Igreja. A sujeição da Igreja à sua Cabeça não é escravização sufocante, mas amor devoto, e o Senhorio de Cristo sobre seu Corpo não é dominação humilhante, mas amor oblativo.
Por fim, esse corpo deve se revestir da armadura de Deus para o combate contra as insídias do mal. Cingir-se da Verdade, revestir-se da Justiça, calçar o zelo pela Paz, empunhar o escudo da Fé, tomar o capacete da Salvação e a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus; orar sem cessar: eis as “armas” do cristão.
Artigo publicado na edição de agosto de 2019 do Jornal da Arquidiocese, página 08
Por Pe. Gilson Meurer