Iniciamos o estudo da carta aos Efésios pela descrição da cidade. Capital da Ásia Proconsular, Efésios granjeava o respeito de todo o império romano em virtude de sua excelência na filosofia (pátria de Heráclito), na arte (pátria dos pintores Apeles e Parrasius), na arquitetura (com um teatro para 25 mil pessoas, vários ginásios, ágoras) e, especialmente, por hospedar o grande templo da deusa Ártemis (o Artemísion). Ártemis era uma divindade naturística, como personificação da fecundidade. Era a nutriz dos animais e dos viventes, invocada na proteção da vida, dos animais, e amparo no nascimento. O Artemísion recebia donativos de toda parte, e funcionava como um banco, onde se podia depositar valores. Mesmo o imperador Augusto reservou ali um recinto para o culto da deusa Roma e de Júlio César (cf. G. Bellinato. «Paulo: cartas e mensagens». Loyola, 1979, pp. 241-246).

São Paulo, em sua terceira viagem missionária, alcançou Éfeso pela primavera do ano 54 (cf. At 19). Conforme seu costume, permaneceu uns 3 meses pregando na sinagoga, procurando persuadir seus ouvintes acerca do Reino de Deus (At 19,8). Sentindo resistência, ele passou a ensinar na escola de Tirano, por aproximadamente 2 anos (At 19,9-10). O Apóstolo se afadigava, passando pelas casas ou em público, para admoestar judeus e gregos a que se «convertessem para Deus e cressem em Jesus Cristo, nosso Senhor» (At 20,20). A sua vida era um sinal constante da presença do Senhor, a tal ponto de muitos sinais se realizarem por meio dele, bem como inúmeras conversões. Diz o evangelista Lucas, que os convertidos queimavam seus livros de magias à vista de todos e que, calculando o preço, deveria dar 50 mil peças de prata (At 19,19). «Assim, a Palavra do Senhor crescia e se firmava poderosamente» (At 19,20).

Paulo foi obrigado a abandonar a cidade, porque sua doutrina estava arruinando o comércio dos ourives, que fabricavam lembrancinhas do Artemísion (cf. At 19,23-40). A despedida do Apóstolo dos anciãos de Éfeso, antes de voltar a Jerusalém, sabendo que provavelmente seria preso e nunca mais retornaria para vê-los, deixa-nos uma página de belos sentimentos de gratidão por todo o empenho de evangelização que S. Paulo realizou entre essa gente (cf At 20,17-38). Na próxima edição, veremos o conteúdo da carta que ele enviou a esses seus queridos amigos.

Artigo publicado na edição de junho de 2019 do Jornal da Arquidiocese, página 08

Por Pe. Gilson Meurer

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