Na introdução da Carta aos Hebreus (1,1-4), apresenta-se, de forma sintética, o conteúdo fundamental da epístola: a eminente dignidade de Cristo, Filho de Deus, sobre toda criatura, cuja obra salvadora é única e definitiva. Ele é a irradiação da glória do Pai e expressão da sua substância pois, sendo Filho, é a revelação mais perfeita de Deus.
Na primeira meditação (1,5–14), Jesus é apresentado como superior aos anjos. Alguns judeus atribuiam a esses seres espirituais uma função mediadora da Lei, um certo papel salvador e até ações sacerdotais. Jesus, porém, sendo Filho de Deus-Pai, o Messias e Rei eterno, é tão superior que os próprios anjos lhe prestam reverência. Jesus Cristo, participante do domínio absoluto de Deus, implanta seu Reino progressivamente até o último inimigo ser subjugado, e os anjos servem permanentemente àqueles que devem herdar a salvação.
Se ignorar a Lei, trazida pelos anjos, já incorria em graves males, quanto mais ignorar a revelação trazida por tão sublime Salvador. Em razão disso, a carta faz uma parêntese parenética (2,1-4), advertindo para não ignorar a revelação do Senhor.
A retomada da reflexão da superioridade de Cristo (2,5-18) esbarra num porém: a sua humanidade e a sua morte. A natureza humana, “um pouco” inferior à dos anjos, todavia está coroada de glória em razão do seu domínio sobre a natureza (alusão ao Sl 8). Cristo ainda mais, pois se lhe estão submetidos o mundo futuro e os bens messiânicos. A paixão, na verdade, era uma condição obrigatória do seu “ser Pontífice”, isto é, ponte entre o divino e o humano, entre o santo e o pecador. Cristo, o Santo Filho de Deus, veio ao encontro da sorte desditosa da humanidade pecadora e experimentou a morte em favor de todos os homens. Na sua condição humana, pôde assumir o castigo da humanidade através de sua paixão e, na sua condição divina, cancelou esse castigo e re-estabeleceu a comunhão com Deus. A salvação de Cristo, então, é única e irrepetível, pois somente ele pode ser a Ponte entre o humano e divino. Ele é “o caminho”.
Por Pe. Gilson Meurer
Artigo publicado na edição de dezembro de 2020 do Jornal da Arquidiocese, página 8.