O nome “Contestado” vem da disputa de território entre Paraná e Santa Catarina. O território contestado tinha a extensão de 48 mil quilômetros quadrados, rico em araucárias. Este litígio foi resolvido em 1916. O mesmo território, situado no meio oeste de Santa Catarina, foi palco de outro acontecimento: a “Guerra do Contestado”, que durou de 1912 a 1916. As causas que levaram ao conflito armado foram outras.
As principais razões da contenda estavam ligadas à demarcação e desapropriação de terras. Eis alguns fatos: a) O Governo brasileiro contratou uma empresa americana para construir a Estrada de Ferro entre União da Vitória e Marcelino Ramos. Como pagamento concedeu o direito de explorar e colonizar 15 quilômetros de cada lado ao longo da ferrovia; b) A Serraria Lumber adquiriu 180 mil hectares de terra para explorar; c) Vários fazendeiros foram requerendo terras devolutas para criar gado. Os moradores destas terras, famílias pobres, tiveram que sair. Como não tivessem para onde ir, juntaram-se, formando vários grupamentos na região. Receberam o nome de “caboclos”. A estes se somaram milhares de pessoas que foram dispensadas, depois de concluídos os trabalhos na Estrada de Ferro.
Outro elemento importante é o aspecto religioso. Estes redutos eram visitados por um místico que instruía a gente, rezava com as famílias, fazia romarias e dava conselhos de vida. Os “caboclos” tinham grande confiança nesta pessoa e o tratavam como “monge”. Foi seguindo “vozes que vinham do céu” que os “caboclos” se colocaram em luta por quatro anos.
Para combater os “caboclos” do Contestado foi convocado o exército. As armas mais sofisticadas da época, como a metralhadora de repetição, foram usadas. Pela primeira vez na América Latina se usou avião em combate. No início, os “caboclos” tiveram algumas vitórias, mas acabaram sendo esmagados pelo exército. Calculam-se que morreram aproximadamente oito mil homens.
Os “caboclos” do Contestado, por muito tempo foram vistos como “jagunços”, pessoas perigosas. Sofreram perseguição mesmo depois do conflito. Foram tratados como renegados pelo poder constituído. É uma fama que não merecem.
No próximo dia 13 de setembro será realizada a “Romaria do Centenário do Contestado”. Acontecerá em Timbó Grande, um dos redutos dos “caboclos”. Um século depois temos oportunidade de recontar a história do Contestado, acontecimento relevante da História de Santa Catarina. Deixo registrado uma saudação a todos os descendentes dos “caboclos” do Contestado. Constituem uma parte importante do povo catarinense.
Por: Dom Wilson Tadeu Jönck, Arcebispo de Florianópolis